quarta-feira, 29 de setembro de 2010

Ardha-Chandrasana

Post de terça-feira, dia 28.09:


Finalmente, consegui recitar o diálogo na frente do Bikram, ufa!!! Que alívio! O melhor é que, apesar de ter titubeado no início do texto (por estar extremamente nervosa), lembrei de tudo, engrenei e consegui deixá-lo satisfeito! "Fantastic", foi o que ele disse, além de dizer que este é o jeito de se dar uma aula, cheio de energia! EEEEBAAAA!




As aulas hoje também foram ótimas, dentro da normalidade de calor de uma aula de Bikram Yoga. Pela segunda vez, de manhã tivemos aula com a Emmy Cleaves, uma senhora admirável de …. anos, que aprendeu a dar aula de Bikram Yoga antes mesmo de existir um diálogo. O Christian, o dinamarquês que foi parar no hospital ontem, também já estava de volta, fazendo todas as aulas e acompanhando as palestras.

E à noite, enfim, os 377 (acho que é este o número oficial, mas preciso confirmar ainda) alunos terminaram de recitar o diálogo para o Bikram. Daqui para a frente, seremos divididos em grupos e recitaremos todas as outras poses apenas para as pessoas do nosso grupo, o que vai acelerar todo o processo. Pelo que sei, um sobe ao palco, recita, enquanto os outros fazem a pose, com professores (que se voluntariam para vir ajudar de todas as partes do mundo) corrigindo possíveis problemas.

A noite até que não terminou tão tarde, 1h, porque amanhã o Bikram vai dar três entrevistas para emissoras de TV. Uma delas fica em Las Vegas, o que quer dizer que ele não estará aqui hoje, o que quer dizer que não precisaremos ficar acordados madrugada adentro, eebaaa!!!

Sei que ingerir cafeína não é muito yoga nem muito saudável, mas ontem à noite tive de tomar um café antes de ir para a palestra. Na segunda-feira, eu parecia um zumbi durante a palestra da noite, pescando tanto que não conseguia acompanhar o que o Bikram falava. Às vezes começava a anotar uma frase e não conseguia terminá-la por já ter esquecido o que ele tinha falado. Com a cafeína hoje foi melhor. Mesmo assim, estou bem cansada...




Nas primeiras duas fotos, estou recitando a primeira parte da Ardha-Chandrasana (Half Moon Pose - seria pose da meia-lua em português???). Na última foto, estou servindo de aluna!

Verão no outono

Post de segunda-feira, dia 27.09:



A segunda semana do curso começou quente. Muito quente. Do lado de fora da tenda, fazia 39ºC minutos antes da aula das 17h. Do lado de dentro, prefiro nem saber. Só sei que estava estupidamente, quase insuportavelmente quente. O resultado foi a aula mais difícil e sofrida que praticamente todos os alunos já tiveram desde que pisaram em uma sala de Bikram Yoga pela primeira vez.

Para quem não conhece a Bikram, a aula começa com uma série de posições feitas em pé e a segunda metade da aula é no chão. Bikram costuma dizer que a primeira metade da aula é o aquecimento para a verdadeira aula, que ocorre no chão, quando trabalhamos a coluna. 

A minha série de pé foi muito, muito difícil. A no chão, no entanto, foi uma completa lástima. Praticamente só fiz uma das duas repetições que fazemos de cada pose, e bem "nas coxas". Estava sentindo tanto calor que meu corpo não queria se mexer. Parecia que meu cérebro estava fritando e a água que eu tomava não aliviava em nada.

Na série do chão, dezenas de pessoas saíram da sala. Um dos alunos teve de ser levado ao hospital, por causa de desidratação. Pensei em sair da sala em alguns momentos. O calor era tão intenso que era praticamente impossível controlar a mente para permanecer ali dentro. Tentei respirar fundo (apesar da sensação de falta de oxigênio por causa do calor) e lembrar do que foi dito logo no primeiro dia do curso, de que você tem de tentar evitar entrar em "função desespero" (desperation mode), respirar e expirar devagar e explicar para sua mente que tudo vai ficar bem, que seu corpo aguenta ficar ali, mesmo que seja apenas deitado, se acostumando com o calor extremo. Porque é exatamente isso que você vai dizer a seus alunos, que o desafio da primeira aula é justamente não sair da sala.

No fim da aula, Bikram disse que foi a pior aula que ele já viu em seus cursos (mais de 30). Ele fica chateado quando não conseguimos fazer o que ele pede, porque ele se sente derrotado.

Saí daquela tenda com a cabeça parecendo um tomate, daqueles bem maduros, com formigamento nas mãos, que estavam brancas (acho que todo sangue subiu à cabeça) e zonza de cansaço e calor. Me bateu um certo medo de não aguentar as próximas oito semanas de curso.

Porém, logo em seguida, vários de nós mergulhamos na piscina e, após poucos segundos, como mágica, estávamos bem de novo, com a sensação de que, vamos, sim, conseguir terminar o curso!

Existe um imenso companheirismo entre todos os alunos, que às vezes até emociona. Ainda estamos recitando o diálogo da primeira pose para o Bikram e hoje um dos alunos subiu no palco e se esforçou tanto, tanto para recitar, mas não conseguia, esquecia as palavras, nós ajudávamos, mas aí ele tropeçava na frase seguinte, um sufoco. Quando ele terminou, todos bateram palmas bem forte e Bikram disse: "Está vendo? Isso é yoga. Quatrocentas pessoas torcendo juntas por você." O cara ficou super-emocionado e agradeceu a todos: "I love you all, thank you guys!"

Seria bom viver em um mundo assim, cheio de yogis, onde um respeita o outro, um apoia o outro, todos se ajudam e se gostam!

P.S.: Sei que minha mãe vai ler este post e ficar preocupada com a minha saúde, mas, Má, não se preocupe, sua filha está se cuidando! E todos aqui cuidam muito bem de nós também! O cara que foi ao hospital estava de volta duas horas depois e teve a sorte de poder ir dormir em vez de ouvir 3 horas de palestra do Bikram, assistir ao primeiro filme (de 94) do Mahabharata (uma produção barata horrorosa, muito ruim mesmo - em que dá para se ver que os bebês são bonecas -, mas, enfim, com uma filosofia bonita) e ter de ficar acordado até às 2h30 da manhã!

domingo, 26 de setembro de 2010

Terminou a primeira semana!

Sim, cá estou eu escrevendo após 10 aulas de yoga, inúmeras horas sentada em uma cadeira ouvindo dezenas e dezenas de pessoas recitando o mesmo diálogo, outras tantas horas vendo filmes de Bollywood e dormir muito menos horas do que meu corpo está acostumado.

Mas, pelo menos por enquanto, estou inteira! Na manhã deste sábado tivemos a última aula desta semana e logo em seguida, Julien e Mila chegaram ao hotel para curtirmos a piscina (finalmente dei um mergulho, após morrer de inveja dos outros hóspedes a semana toda!). Aí fomos todos para o apartamento em Pacific Beach e achei beeem bom sair um pouco daquele lugar, parar de pensar um pouco na decoreba do diálogo (às vezes acordo à noite recitando o texto) e passear pela cidade. Ali no hotel você parece estar dentro de uma bolha, onde você só pratica yoga, pensa em yoga, fala sobre yoga e encontra yogis.

Impressionantemente, meu corpo está bem e não estou sentindo a quebradeira que senti várias vezes enquanto treinava para o curso em Londres. O que estou sentindo é uma confusão mental, porque meu cérebro não está acostumado a dormir tão pouco. Porém, preciso dizer que estou orgulhosa de ter concluído a primeira semana sem grandes traumas! Sei que foi a semana mais fácil, a maioria dos professores tentou limitar as aulas aos 90 minutos normais (parece que ao longo das semanas as aulas ficam cada vez mais longas), a sala não estava muito quente e com exceção daquela aula altamente úmida de quarta-feira, me senti bem durante todas as aulas.

Segui o conselho que o Bikram deu em sua palestra de boas vindas: "Na primeira semana, você está de férias. Pegue leve, não tente se exibir na primeira semana. Aproveite o lugar, a comida e as pessoas."

Ah! "E deixe todos seus maus hábitos do lado de fora da porta. Pelo menos uma vez na vida, faça algo do jeito indiano. Deixe eu fazer meu trabalho. Use meu cérebro e seu corpo. É o casamento perfeito."

Ele disse que nosso inimigo número 1 é a mente, que fica nos transmitindo as informações erradas. "Não importa o que sua mente diz... que você quer ir para a casa... você não tem mais casa. Levou tanto tempo para você chegar aqui, portanto não vai querer desistir."

Já vi aluno chorando durante a aula (nesta mesma aula de quarta-feira) e vários alunos aparentemente descontaram a falta de paciência em assistir aos filmes indianos madrugada adentro nos funcionários. O coordenador dos funcionários, Dominic (um inglês extremamente sarcástico e engraçado), lembrou aos alunos que a cada semana que passa, vamos ser forçados a sair da nossa zona de conforto (é esta a tradução de comfort zone?), e fez uma observação: "Engraçado ver como a zona de conforto de algumas pessoas é limitada, já que perdem a paciência apenas ao ficar sentadas assistindo à TV."

Vou parando por aqui, porque quero aproveitar cada segundo com o Julien e com a Mila! Ainda tenho de fazer compras para a semana e à tarde temos um churrasco na casa de uma das alunas, que convidou as mães com filhos para comer e praticar o diálogo! O tempo aqui está maravilhoso, dizem que o verão chegou neste começo de outono!

Esta semana vou tentar atualizar o blog pelo menos uma vez antes do próximo sábado. Assim não preciso despejar tantos posts de uma vez em cima de vocês!

E fica aqui mais uma frase do Bikram: "The world is beautiful, it's you that lost your glasses. So put your glasses on and see the beautiful world!"


Fomos ver o pôr-do-sol ontem. Como sempre, um espetáculo e uma beleza deste mundo que enxergamos até sem óculos! Kizz, meu irmão, espero que você tenha visto este céu lindo pelos meus olhos!

sábado, 25 de setembro de 2010

Dia 4


Post escrito na quinta-feira, dia 23.09:


Ainda não recitei o diálogo na frente do Bikram. Tinha decidido subir lá no pódio ontem, mas as pessoas só faltavam se estapear (atitude nada yogi) para sentar nas cadeiras da fila. Como todos vão ter de passar por isso mais dia menos dia, decidi relaxar e subir quando chegar minha hora.

Hoje foi um dia um pouco diferente, porque recebi a tão esperada visita do Julien e da Mila, que tornaram o meu dia mais feliz!!! Meu Deus, a Mila está tão diferente!!! Ela está "falando" um monte (a língua dela, por enquanto) e adora pegar um telefone para ficar conversando, uma graça! Abracei e dei muitos beijos na minha pequena - e alguns no meu grandão também! :-) - e as duas horas que eles passaram aqui comigo (entre banho, café-da-manhã/almoço, etc, etc) foi a melhor parte do dia de hoje!

Dia este, que pelo jeito ainda está longe de acabar… Na noite de anteontem, a seção noturna foi até 0h30. Ontem, Bikram estava com vontade de ver filme e fomos obrigados a ver um filme de Bollywood de 3 horas de duração. É uma prática comum do treinamento nos manter acordados o máximo de tempo possível (nas semanas mais difíceis parece que ficaremos lá até às 4h da madrugada). O problema, além de ficar acordado, é ficar sentado em uma cadeira dura durante tantas horas. Tem uma hora que você não encontra mais posição confortável.

Mas a professora que deu a aula hoje cedo (a melhor do curso até aqui) fez uma observação pertinente: se você não consegue ficar sentado quieto não consegue fazer uma saváshana quieto. A professora, Brandy, é a campeã mundial de Bikram Yoga e a aula dela foi uma das melhores e mais inspiradoras aulas que já tive até agora. Ela é exemplo de que quando você trabalha em algo que você realmente gosta e em algo que você acredita, você automaticamente acaba sendo um ótimo profissional. Pela aula dela você percebe o quanto ela gosta de praticar yoga e como ela acredita em todos os benefícios da prática. Espero que um dia eu consiga dar uma aula tão bela quanto a dela!

Aliás, diferentemente da aula dela, após a qual me senti altamente bem e feliz para aguentar o resto do longo dia (e da longa noite!), ontem à tarde tive uma das aulas mais duras que já fiz. A sala estava extremamente úmida e parecia que eu estava praticando debaixo de um chuveiro quente. Me senti tonta algumas vezes, senti muita fraqueza e enjôo. Ouvi dizer que muita gente acaba vomitando durante a aula (e algumas pessoas realmente já o fizeram), mas nunca pensei que talvez eu fosse ser uma destas pessoas. Até agora não aconteceu, mas me senti tão enjoada na aula de ontem que passou pela minha cabeça que talvez isso ainda aconteça. Ainda mais porque a sala vai ficar mais e mais quente e as aulas vão ficar mais e mais longas e difíceis.

Várias pessoas também já saíram carregadas da sala e a razão número 1 parece ser falta de alimentação. Por isso estou tentando comer bem, bastante proteína, carboidratos à noite e muitos sais minerais para repôr tudo que a gente perde durante a aula. Afinal, acho que nunca fiz tanto exercício físico pesado na vida. São entre três e quatro horas de yoga e outras 10 horas em média sentados em uma cadeira por dia!

Ontem fomos dormir às 3h da madrugada, após assistir a um épico indiano, Jodhaa Akbar. O filme é bem bom, bonito, imagens lindas, trilha sonora legal, algo de muito bom gosto para vir de Bollywood. Mas sei que veria o filme com muito mais prazer se não fosse tão tarde e eu tivesse de ficar sentada em uma cadeira dura por quase seis horas seguidas!



A foto acima foi tirada antes de uma aula começar. Ainda preciso pedir para algum dos monitores tirar uma foto durante a aula, é lindo ver todo mundo alinhado, na mesma posição!

Dia 3

Aqui vai o post escrito na última quarta-feira, dia 22. Abaixo explico por quê a demora para publicar. Ainda hoje publico mais um post!

Sei que estou devendo um post há algum tempo, mesmo porque tenho milhares de coisas para escrever! Infelizmente, a Internet aqui no hotel é caríssima ($ 5 por dia) e acho que não há interesse por parte dos organizadores da Bikram de negociar um preço melhor, porque eles nos pediram para nos comunicarmos o menos possível com o mundo exterior. De preferência, nada de Facebook e afins, nem grandes surfadas na Internet…

O outro motivo por estar escrevendo apenas agora (nem sei quando isso será publicado, já que preciso de uma Internet para isso!) é que não dá tempo de fazer muita coisa durante as 24 horas do dia! A nossa rotina é mais ou menos essa: acordamos uma hora antes de ir para a aula (por volta das 7h), comemos alguma coisinha (tipo uma banana) praticamos um pouco o nosso diálogo e seguimos para a aula às 8h. No fim da aula, às 10h, temos duas horas "livres", que é o tempo de tomar banho (uma de nós duas sempre tem de esperar a outra ficar pronta), comer e, com sorte, fazer alguma coisa além de praticar o diálogo. E é exatamente este tempo que estou usando agora!

Mas vamos ao que interessa! O curso até aqui está sendo ótimo, já que as aulas de yoga não estão sendo muito puxadas e a temperatura da sala está ridiculamente amena (dizem que sempre que o curso muda de endereço, eles têm problemas para aquecer a sala nas primeiras duas semanas). Hoje a aula da manhã foi com um professor do estúdio de Bangkok, mas a de ontem cedo foi com a mulher do Bikram, Rajashree, e as duas aulas da tarde (de segunda e terça) foram com o próprio homem! Preciso dizer que depois da primeira aula com o "boss", como todos o chamam e como ele costuma chamar todos os homens do curso, fiquei ali deitada em saváshana (esta é a pronúncia correta, aprendi), tentando digerir o fato de que eu estou mesmo no curso e que eu acabei de praticar uma aula com o mestre criador desta yoga!

Praticar em uma sala com outras quase 400 pessoas também foi uma experiência interessante! Todos movendo juntos, se concentrando na mesma coisa, toda aquela energia reunida, foi muito, muito bom! A minha prática, preciso dizer, não foi das melhores. Descobri que estava bem menos flexível em posições que normalmente consigo fazer sem problemas e simplesmente não consegui firmar meus pés no chão na Triangle Posture (postura do triângulo)! Escorreguei tanto, mas tanto, que caí no chão algumas vezes. Pensei em culpar o carpete, que é escorregadio - e costumo praticar esta posição em cima da toalha e da esteira, já que neste ponto da aula já estou altamente molhada, pingando de suor. Mas aí olhei para os lados e vi todas aquelas pessoas fazendo o triângulo sem problemas, no carpete! Pensei em culpar meu suor excessivo, mas a verdade é que simplesmente ainda não tenho força suficiente nas pernas para segurar a posição seja qual for o tipo de superfície embaixo dos meus pés. O professor de hoje cedo disse que Bikram costuma dizer que temos de aprender a segurar o triângulo até sobre gelo molhado com água e sabão!

Tudo isso aconteceu antes do discurso de boas vindas do Bikram, no início da tarde de segunda-feira. O cara é tão admirado e adorado por todos que toda vez que ele entra na sala, munido de seu "microfone de Madonna", é aplaudido pela massa. Até agora, tudo que me falaram sobre ele parece ser verdade. Ele é divertido, sábio, tem muuuuita energia, é sincero - às vezes a sinceridade dele é tamanha que dói - e mulherengo.

No segundo dia, terça-feira, os alunos começaram a formar fila para recitar a primeira posição da série para o Bikram. É uma forma de todos se apresentarem para os outros alunos e principalmente para o próprio Bikram, que também analisa sua capacidade de dar sua aula, fazendo comentários sobre seus pontos fortes e fracos.

Para quem me conhece, não preciso nem dizer que, apesar de toda a yoga, sou um poço de ansiedade, mas também bastante tímida para falar em público. Por um lado, sei que o diálogo está aqui, prontinho, e quero subir logo naquele palco para recitá-lo e acabar com tanta aflição. Por outro lado, estou morrendo de medo de virar o centro da atenção de cerca de 400 pessoas, incluindo o Bikram!!! 


Aqui uma das alunas recitando a primeira postura do diálogo para o Bikram e os outros alunos. Reparem que uma muçulmana está ali no meio servindo de modelo para a aluna. Enquanto todos fazem aula de short e top por causa do calor, ela faz aula assim, coberta da cabeça aos pés. Moça valente!

segunda-feira, 20 de setembro de 2010

Primeiro dia

Ontem finalmente tudo começou! Quando cheguei ao Town and Country Resort & Convention Center , onde ocorre o curso, e vi a placa de boas vindas aos alunos de Bikram Yoga, meus olhos ficaram marejados de emoção. Não estava acreditando que um sonho de mais de três anos começava a se concretizar e que eu estava prestes a embarcar em uma das experiências mais intensas da minha vida!

Julien e Mila me acompanharam neste primeiro dia e fomos fazer meu check-in (a maioria dos alunos está dividindo um quarto com alguém, já que pagar um quarto sozinho sai quase o dobro do preço) e eu estava torcendo para não parar no mesmo quarto de uma louca que eu tivesse de aguentar durante as próximas 9 semanas.

Mas quem disse que consegui fazer o check-in? Aparentemente, o número de alunos do curso aumenta a cada semestre e desta vez são quase 400 pessoas. Isso quer dizer que o lobby da recepção estava absolutamente lotado, com uma fila imensa, e resolvi guardar minha mala e fazer o check-in após a inscrição para o curso e as orientações.

Após atravessar o complexo do hotel inteiro, chegamos às tendas montadas pelos organizadores para nos registrar, assinar papelada assumindo a responsabilidade se tivermos algum colapso, pagar o curso de primeiros socorros, essas coisas. E já deu para ver a imensa sala onde nós vamos começar a assar hoje à tarde, quando faremos a primeira aula do curso, com nada mais nada menos que o criador da yoga que mais amo, Bikram Choudhury!

Ontem, aliás, conhecemos a mulher dele, Rajashree, que foi a responsável pelo discurso de boas vindas aos alunos. Já conhecia ela do DVD de Bikram Yoga para grávidas que pratiquei quando estava grávida da Mila. Ela explicou um pouco sobre como seria cada semana, antecipando que as duas primeiras seriam mais leves, para todos se acostumarem com o fuso, a rotina e todas as atividades e depois disso tudo ficaria cada vez mais intenso. Deveríamos nos preparar para nos divertir, rir, ficar nervosos, passar raiva, chorar, sentir todo tipo de emoção que o ser humano é capaz de sentir. Mas não deveríamos julgar nada, mergulhar no curso de alma limpa, sem preconceitos, sem expectativas, e acreditar no processo.

Já conheci outras três mães que trouxeram os filhos pequenos para San Diego - uma delas até ainda está amamentando -, o que foi um alívio para mim! É bom saber que existem outras pessoas na mesma situação "anormal" que você! Aliás, os alunos são pessoas de todos os cantos do mundo, de todas as idades, de todas as cores, formas, estilos, o que prova que Bikram Yoga realmente é uma yoga que pode ser praticada por qualquer um!

Ah! E depois de tudo isso, fiz o check-in e conheci minha companheira de quarto. Kitty, uma taiwanesa, que mora em Los Angeles há cinco anos. Parece ser bem gente boa e está sempre oferecendo ajuda! Já me deu uma garrafa d'água das 20 que ela trouxe (eu cheguei aqui sem nada, nem pensamos em fazer umas comprinhas básicas!) e se ofereceu a me levar de carro para um supermercado hoje!

domingo, 19 de setembro de 2010

Mude, mude, sempre!

Daqui a poucas horas sigo para o hotel onde começo meu curso e a ansiedade me consome!!! Antes disso, deixo aqui um poema, que o Zé, um amigo bastante sensível e especial, enviou como inspiração.

MUDE
Edson Marques


Mas comece devagar,
porque a direção é mais importante
que a velocidade.

Sente-se em outra cadeira,
no outro lado da mesa.
Mais tarde, mude de mesa.

Quando sair,
procure andar pelo outro lado da rua.
Depois, mude de caminho,
ande por outras ruas,
calmamente,
observando com atenção
os lugares por onde
você passa.

Tome outros ônibus.
Mude por uns tempos o estilo das roupas.
Dê os teus sapatos velhos.
Procure andar descalço alguns dias.

Tire uma tarde inteira
para passear livremente na praia,
ou no parque,
e ouvir o canto dos passarinhos.

Veja o mundo de outras perspectivas.
Abra e feche as gavetas
e portas com a mão esquerda.

Durma no outro lado da cama...
depois, procure dormir em outras camas.

Assista a outros programas de tv,
compre outros jornais...
leia outros livros,
Viva outros romances.

Não faça do hábito um estilo de vida.
Ame a novidade.
Durma mais tarde.
Durma mais cedo.

Aprenda uma palavra nova por dia
numa outra língua.
Corrija a postura.
Coma um pouco menos,
escolha comidas diferentes,
novos temperos, novas cores,
novas delícias.

Tente o novo todo dia.
o novo lado,
o novo método,
o novo sabor,
o novo jeito,
o novo prazer,
o novo amor.
a nova vida.

Tente.
Busque novos amigos.
Tente novos amores.
Faça novas relações.

Almoce em outros locais,
vá a outros restaurantes,
tome outro tipo de bebida
compre pão em outra padaria.
Almoce mais cedo,
jante mais tarde ou vice-versa.

Escolha outro mercado...
outra marca de sabonete,
outro creme dental...
tome banho em novos horários.

Use canetas de outras cores.
Vá passear em outros lugares.
Ame muito,
cada vez mais,
de modos diferentes.

Troque de bolsa,
de carteira,
de malas,
troque de carro,
compre novos óculos,
escreva outras poesias.

Jogue os velhos relógios,
quebre delicadamente
esses horrorosos despertadores.

Abra conta em outro banco.
Vá a outros cinemas,
outros cabeleireiros,
outros teatros,
visite novos museus.

Mude.
Lembre-se de que a Vida é uma só.
E pense seriamente em arrumar um outro emprego,
uma nova ocupação,
um trabalho mais light,
mais prazeroso,
mais digno,
mais humano.

Se você não encontrar razões para ser livre,
invente-as.
Seja criativo.

E aproveite para fazer uma viagem despretensiosa,
longa, se possível sem destino.

Experimente coisas novas.
Troque novamente.
Mude, de novo.
Experimente outra vez.

Você certamente conhecerá coisas melhores
e coisas piores do que as já conhecidas,
mas não é isso o que importa.
O mais importante é a mudança,
o movimento,
o dinamismo,
a energia.
Só o que está morto não muda !

sexta-feira, 17 de setembro de 2010

Lavanda gelada

Não pretendia escrever antes de terça ou quarta-feira da semana que vem, mas como hoje fiz minha primeira aula de Bikram Yoga nos Estados Unidos, fiquei com vontade de contar alguns pequenos detalhes!

Já ouvi dizer que os melhores professores de Bikram Yoga são os da Grã-Bretanha, porque, diferentemente dos americanos, eles fogem da "decoreba" do texto (sim, temos de decorar 90 minutos de aula, palavra por palavra, durante o curso) e dão um toque pessoal às aulas. Realmente, eles conseguem tornar cada aula única, apesar de ser sempre a mesma série de 26 posições.

Eis que, pelo menos no estúdio onde pratiquei hoje, a professora (que também é a diretora do local) também não dita o texto palavra por palavra e, o mais surpreendente, faz a aula com os alunos! Em uma aula típica de Bikram Yoga, o professor não demonstra nada, pois a intenção é os alunos ouvirem todas as orientações para se concentrar somente na execução das posições. Assim o professor também consegue prestar atenção nos alunos para corrigir possíveis erros nas posições. Nunca imaginei que alguém pudesse ter energia o suficiente para falar durante 90 minutos E fazer as posições!


Porém, o melhor mesmo veio no fim da aula: lá estávamos nós, derretidos e acabados no chão em posição de shavásana, quando foram distribuídas toalhas geladas perfumadas com essência de lavanda para nos refrescarmos. Noooossa, só quem já fez uma aula de Bikram Yoga consegue imaginar a maravilha de ganhar essa toalhinha diretamente saída do freezer no fim da aula!


Este tipo de árvore está espalhado pelo bairro onde fica nosso flat, em Pacific Beach. Parece um bonsai em tamanho real!

quinta-feira, 16 de setembro de 2010

Rumo a San Diego



Nos últimos seis meses, não foi fácil treinar para o curso. A diretora do estúdio que eu costumo frequentar exige aos candidatos ao curso de professores que pratiquem pelo menos quatro vezes por semana, todas as semanas, sem intervalo, e que nos últimos dois meses façam pelo menos duas aulas por dia três vezes por semana (cada aula tem 1h30 de duração). Ela tem de escrever uma carta de recomendação aos organizadores do treinamento, por isso tentei seguir suas recomendações à risca.
Quando ainda trabalhava, o tempo era curto, já que ainda tinha uma Mila (minha filha de 1 ano e meio) para cuidar em casa. Mas há dois meses parei de trabalhar (entrei no programa de demissão voluntária da empresa) e pude me dedicar mais à yoga. Mesmo assim foi cansativo, dolorido e uma prévia do que me aguarda a partir da próxima segunda-feira, quando passo a praticar duas vezes por dia de segunda a sexta e mais uma vez na manhã de sábado, durante as 9 semanas.

Cansativo também - e muito - foi chegar a San Diego ontem! Como o Julien está desempregado e sobraram uns parcos recursos após pagar o curso de yoga, resolvemos parar de pagar o aluguel quase milionário do nosso apartamento em Londres, colocar toda a nossa tralha (reunida com "muito esforço" durante seis anos na cidade e aumentada consideravelmente após o nascimento da Mila) em um depósito e ir todos passar três meses nos Estados Unidos!

Munidos de três malas (como a vida pode ser leve!), embarcamos às 11h em Heathrow, fizemos uma escala para lá de apertada em Los Angeles e saímos do outro lado, em San Diego, às 17h (lembrando que aqui estamos 8 horas atrás de Londres). A Mila mal dormiu no avião, quis andar o tempo todo (seu hobby predileto nas últimas semanas) e fazia escândalo toda vez que tentávamos mante-la no assento (ordem das "simpáticas" aeromoças da American Airlines - aliás, sempre que puder, evite voar de AA. O serviço é péssimo, a comida é ainda pior do que o padrão aéreo e você ainda por cima tem de pagar se quiser alguma bebida alcoólica), o que resultou em dois trapos e um trapinho desembarcando em San Diego.

Cansados, porém felizes! Fomos recebidos com sol e simpatia (coisas, aliás, que estão diretamente correlacionadas em qualquer lugar do mundo) e o apartamento que alugamos é bem legal. O Julien e a Mila ficam aqui, enquanto eu passo a semana no hotel onde ocorre o curso (já que o dia começa cedo e muitas vezes segue madrugada adentro) e volto para cá aos domingos para matar as saudades. Aliás, um dos meus desafios adicionais vai ser ficar longe desta pequena linda, já que nunca passei sequer um dia sem ela desde que ela nasceu. Às vezes, horas depois de termos colocado a Mila na cama, lembro das coisas fofas que ela fez durante o dia e já me bate uma vontade de tê-la acordada ao meu lado antes mesmo de amanhecer!


Hoje fomos passear um pouco para conhecer os arredores da casa e é impressionante como a cidade é contagiada pelo clima praiano. Não só o visual, mas as pessoas, todas relaxadas, com sorriso no rosto, distribuindo gentilezas, como parar o carro espontaneamente para deixar os pedestres atravessarem a rua (raridade até em uma cidade civilizada como Londres) e se derreter de elogios para um anjinho loiro que as cumprimenta com um sorriso (sim, esta é minha Mila! :-).

A alguns segundos de casa temos um Trader Joe's e um Henry's, dois mercados no estilo do Whole Foods, um mercado maravilhoso cheio de produtos orgânicos, coisas naturebas, verduras bonitas e comidas saudáveis de ótima qualidade. Me impressiona como na terra do supersize (leia o próximo parágrafo para mais detalhes) haja tanto mercado para estes produtos. A Grã-Bretanha, que considero um país mais saudável do que este, tem pouquíssimos mercados deste tipo. Tudo bem, você pode argumentar que estamos na Califórnia, uma ilha de bom-senso nos Estados Unidos, mas lembro destes mercados em outras cidades americanas por onde passei, como Phoenix, Miami e Boston.

E apesar de isto aqui ser uma ilha de bom senso, com pessoas preocupadas com a saúde e o meio-ambiente, é impressionante a quantidade de SUVs que existem aqui! Quanto carro imenso, meu Deus!!! Muitos deles com apenas uma pessoinha dentro! Mas a mania de grandeza parece fazer parte da cultura americana a ponto de cegar até aos menos alienados. No supermercado às vezes não se acha o produto que se quer em tamanho normal. Ketchup de litro, Red Bull de meio litro, garrafas de vodka gordíssimas, até saco de Gummibärchen da Haribo (umas "balinhas" em formato de ursinho alemãs que eram meu vício na infância) aqui é vendido em um tamanho inexistente na terra que os inventou!
Fico me perguntando como as pessoas que vivem sozinhas fazem compras. Os galões de suco e chá parecem ser feitos para famílias italianas com pelo menos dez filhos! Ah é, mas estamos nos Estados Unidos, onde a política do desperdício também fala mais alto. Não usou? Joga fora e compra outro...

Ainda estou tonta do jet lag (acordamos hoje às 4h da matina e agora, 21h35 em San Diego, são 5h da manhã em Londres; zooonaaaa!), então vou aproveitar estes dois últimos dias antes do curso para descansar, fazer uma aulinha de yoga e curtir o Julien e a Mila até o último fio de cabelo e provavelmente no início da semana que vem conto como foi o começo do treinamento!
Ah, e obrigada desde já pelos comentários e pelo apoio!

segunda-feira, 13 de setembro de 2010

Novos rumos


Olá!

Começo aqui um blog sobre o que deve ser um dos maiores desafios da minha vida até aqui: o treinamento de professores de Bikram Yoga. Se você entrou neste blog é porque está no mínimo curioso para saber o que afinal é esta yoga ou então, assim como eu, você já foi completamente conquistado por ela. Ou, melhor ainda, você está simplesmente lendo tudo isso para me dar um apoio moral e me ajudar a sobreviver as nove semanas de curso, que começam oficialmente no dia 19 de setembro! Seja quais forem seus motivos, obrigada pela leitura e espero não tornar o blog chato demais para aqueles que não praticam yoga!

Acho que deveria primeiramente explicar como eu, uma jornalista apaixonada pela profissão, que está longe de ser uma pessoa extremamente flexível e sarada, resolveu encarar um curso tão puxado de yoga.

Tudo começou há pouco mais de quatro anos, em Londres, quando uma amiga, a Carol, falou sobre esta tal yoga praticada em uma sala aquecida, como se fosse uma sauna. Na época, eu já gostava bastante de yoga, mas praticava em casa, com DVDs de séries para iniciantes. A Carol falou tão bem da tal Bikram Yoga, que resolvi tentar. E lá fui eu encarar 90 minutos de aula em uma sala de cerca de 40ºC. Já depois das primeiras posições, meu suor escorria pelo corpo, meu coração estava disparado, minha respiração ofegante e minha mente começou a ficar atordoada com a tonelada de informações que o professor estava despejando em cima dos alunos. O que eu estava fazendo ali???
Só para explicar, na Bikram, o professor não demonstra as posições, só descreve tudo o que você tem de fazer e, como iniciante, você acaba tendo de copiar os mais experientes na sala, pois é impossível prestar atenção em todas aquelas palavras (ainda mais quando você não entende algumas, já que minha especialidade em inglês não era anatomia humana!).

Quando a aula finalmente acabou e fiquei deitada em shavasana (posição do cadáver) comecei a sentir a recompensa daquele esforço todo. Senti uma satisfação imensa de ter sobrevivido à aula e me senti viva, cheia de energia! Depois de um banho quase gelado para tentar resfriar aquele calorão todo então, saí do estúdio flutuando! E foi assim que me viciei na Bikram Yoga.

Durante os primeiros meses, praticava entre duas e três vezes por semana e quando surgiu a possibilidade de concorrer a uma promoção para virar correspondente da BBC Brasil no Cairo, uma das minhas primeiras reservas era de que lá não existia Bikram e eu já não conseguia mais ver minha vida sem esta yoga. Mas o desejo de encarar este desafio profissional falou mais alto e assim comprei um livro para tentar praticar a Bikram Yoga sozinha e lá fomos nós para o Cairo. Confesso que pratiquei apenas algumas vezes lá, porque a falta de uma sala quente, de outros alunos e, principalmente, de um professor orientando, deixa tudo bem mais difícil e chato.

Voltamos do Cairo, retomei minhas aulas aqui e a vontade de mergulhar nove semanas em Bikram Yoga foi crescendo. E quando pensei que, quando nos mudássemos de volta ao Brasil (o que é, e sempre foi, o nosso plano) eu ficaria mais uma vez sem esta yoga, resolvi levar a sério a possibilidade de fazer o treinamento de professores. Nem que fosse apenas para eu me aperfeiçoar nas posições e conseguir fazê-las sozinha da forma mais correta possível. Conversando com meu marido, o Julien, e com amigos, surgiu a ideia de, quem sabe um dia, abrir um estúdio de Bikram Yoga no Brasil. Afinal, era algo que eu amava fazer, não?

Ainda não sei o que vai acontecer depois do curso. Só sei que quero, sim, virar professora, e quero, sim, ensinar mais pessoas a praticar algo que tem efeitos tão maravilhosos em mim e em milhares de outros seguidores da Bikram. E para quem está pensando que eu cansei do jornalismo, não cansei, não. Só encontrei algo que, pelo menos neste momento da minha vida, me conquistou ainda mais do que minha atual profissão!

Se você chegou até aqui, parabéns pela paciência! Escrevi demais, né?! Para não desestimulá-lo para o próximo post, paro por aqui. Amanhã escrevo mais sobre os últimos dias antes do curso!
Ah, e se você ficou curioso para saber um pouco mais sobre a Bikram Yoga, dê uma olhada no vídeo desta página: Introduction to Bikram Yoga