domingo, 21 de novembro de 2010

Formatura


O dia amanheceu mais com cara de Londres do que de Califórnia. Céu cinzento, frio e muita, muita chuva. Aliás, muito mais chuva do que em Londres. Arrumei minhas coisas - é impressionante como você acumula tranqueira morando dois meses em algum lugar, mesmo em um quarto de hotel - esperei ansiosamente o Julien e a Mila chegarem (a Mila resolveu dormir até mais tarde justamente ontem!) me despedi da taiwanesa e saí do hotel rumo ao nosso apartamento. 

Quando vi já eram 13h e nem tinha saído para comprar o colar que tinha visto há duas semanas para combinar com a minha roupa. E às 14h30 tínhamos de estar lá no centro de convenções do hotel para começar a cerimônia de formatura às 15h em ponto! Depois do corre-corre, estávamos saíndo de casa às 14h25, sem almoço. Paciência. Compramos um franguinho para a Mila no drive-thru e fomos para o hotel.

Porém, como diz o Bikram, "we are not business people, we are yogis, we only know how to lock the knee", e nada começou no horário. a Rajashree fez um discurso, depois veio a demonstração de um grupo de 30 alunos do curso de todas as posições da série (foi lindo!!!! Eles treinaram mais de uma semana, todos os dias ficavam mais de uma hora na sala quente após cada aula - duas vezes por dia - para aperfeiçoar a técnica e a sincronização. E valeu a pena!), depois troféus para alguns alunos e quando chegou a hora do discurso do Bikram já estava todo mundo verde de fome. E nada de comida, nem para os convidados. Só água.

A demonstração dos alunos (obviamente os mais flexíveis do curso!)

O discurso do Bikram foi bonito. Ele começou agradecendo às famílias de todos os alunos pelo sacrifício que elas fizeram para nós estarmos aqui, dizendo que foram os nossos parentes que mais se esforçaram durante estas nove semanas. E concordo com ele. Sei que não foi fácil nem para o Julien nem para a Mila e os agradeço imensamente por me ajudar a tornar este meu sonho possível. Obrigada, obrigada, obrigada, meus amores! Não sei o que faria sem vocês. Obrigada também à minha mãe e ao meu pai, que apesar de terem tido lá suas restrições em relação ao curso, me encorajaram para eu seguir em frente e realizar meu sonho. Obrigada a todos vocês.

O Bikram também lembrou que este é o início da nossa jornada e que estas nove semanas apenas nos prepararam para ser professores e que o verdadeiro desafio começa agora. Disse que somos pessoas diferentes e, pela primeira vez, nos chamou de yogis! Disse que nos tornamos "fireproof, bulletproof, emotionproof, sexproof, painproof", porque somos yogis e estamos acima do chão. Sinceramente, acho que ainda não cheguei neste nível, mas aprendi o caminho para chegar lá. "And I declare you, Bikram Yoga graduates!", disse ele no final. Quase chorei.

Como tudo se atrasou e todos estavam morrendo de fome, resolveram apressar o processo de entrega dos diplomas. Cada um ficava pouco mais de dez segundos no palco, para receber o diploma e tirar a foto oficial ao lado do Bikram.

Making-off da minha foto oficial (que ainda não tenho)
Não preciso nem dizer que o buffet foi um caos. Fila de uma hora, todos esfomeados e vários indo embora para dar uma passadinha no pub e tomar uma cerveja antes de comer (perto do Bikram nada de álcool nem de cigarro, portanto na festa só havia água e refrigerante). E foi aí que deixei de me despedir de muita gente, porque algumas pessoas acabaram nem voltando.

Nós ficamos lá, comemos, tomamos muita água (e o Julien Coca-cola), a Mila arrasou na pista de dança (até o Bikram dançou com ela!) e finalmente me senti realizada. Concluí um sonho de três anos e estou feliz de ter dado alguns importantes passos no que considero ser a direção certa do meu destino. E espero que nos próximos meses eu siga em frente neste caminho e ajude muitas pessoas a encontrar a direção certa de seus próprios caminhos.

A representação brasileira do curso: Cassiano, Jeane e eu!
(Tinha mais uma brasileira, a Paula)
Estou nervosa e ansiosa com a primeira aula e, como diz o Dom, o ciclo só se fecha quando você dá sua primeira aula. Por outro lado, estou ansiosa e animada com todas as transformações que tenho certeza que vão ocorrer na minha vida como professora de yoga e, principalmente com as transformações que vou ajudar a começar na vida de meus futuros alunos. Eu acredito com toda minha alma no poder da yoga, principalmente da Bikram Yoga (pelo menos para o estilo de vida de nós, ocidentais), e espero convencer todas as pessoas que eu amo a pelo menos fazer uma semana de aula. Não tenho dúvidas que alguns vão acabar passando nove semanas de suor em algum lugar dos Estados Unidos no futuro...

E como o ciclo só termina com a primeira aula, aguardem o último post deste blog, no dia 1º de dezembro!

O melhor prêmio do mundo no fim do curso: diploma
e meus dois amores de volta!
Karla (do meu grupo) e eu com a
princesa da festa.

Mila arrasando na pista de dança (fez o maior escândalo na hora de
ir embora!)

sábado, 20 de novembro de 2010

97 aulas depois...

Começo da última aula.


Acabooooouuuuu!!!!! Ontem à noite foi a nossa última aula, a 97ª, para quem não fez nenhuma aula extra durante os fins de semana (meu caso)! Missão cumprida!

Estou bem orgulhosa, bem feliz, bem satisfeita com o feito, mas pensei que estaria pulando de emoção e euforia. Mas não estou. Estou sentindo exatamente o que costumava sentir após as excursões do colégio. Após quatro dias intensos de diversão e união com todos os meus colegas de classe, sentia um imenso vazio na barriga, um furo, ao voltar para a casa. Me sentia extremamente sozinha. E é como estou me sentindo agora.

Ontem à noite acabamos não tendo palestra com o Bikram, então fomos liberados por volta das 22h, com  a opção de voltar para o último filme bollywoodiano às 23h30, com a presença do Bikram. Tinha me prometido que na última noite iria assistir ao filme, como despedida. Antes, passei no quarto da Sophie e ela e a colega de quarto, Susan, abriram um vinho para comemorarmos o fim do curso. Por volta das 0h30 descemos para a tenda e o Bikram ainda não tinha chegado para o filme. Cerca de 50 pessoas pacientes esperavam desde às 23h30... Bom, depois de 15 minutos ele chegou e começamos a assistir ao filme. Acabei deitando em 4 cadeiras, com cobertor, e por volta das 2h da matina adormeci. Quando acordei, às 2h30, só havia no máximo 8 pessoas na tenda, cinco delas dormindo, além do Bikram, é claro. Me senti tão triste, com aquela sensação de fim de festa, e senti falta de todas aquelas pessoas enchendo a tenda de barulho, vida e energia. Levantei e fui para o quarto. E adormeci triste.

Fim da última aula.


Estou feliz de voltar ao dia-a-dia com meus dois amores, afinal morri de saudades deles o curso inteiro! Mas estou muito, muito triste de me separar de tantas pessoas especiais que conheci aqui, de sair deste ambiente seguro que, apesar de muitas vezes difícil, faz nos sentir amados. A ligação que todos nós criamos durante estas nove semanas é algo impressionantemente intenso.

Última noite na tenda.


Várias pessoas aqui estão apreensivas de voltar ao "mundo normal", porque, além da união com o grupo, todos nós estamos nos sentindo diferentes. Provavelmente, algumas coisas nas nossas vidas vão mudar daqui para a frente e eu só espero que seja para a melhor.

Enfim, a vida continua e não podemos parar (nem voltar) o tempo, certo? O importante é seguir em frente, com determinação, coração e mente abertos, pensamento positivo, humildade e honestidade e sinceridade. E como diz o Bikram, só se preocupe em dar, dar, dar, sem nunca esperar nada em troca. É assim que você recebe tudo o que você precisa e muito mais.

Este ainda não é o último post, mesmo porque não quero terminar meu blog com este desânimo. Hoje é nossa graduação, seguido de jantar e festa na tenda! Amanhã tem mais e espero encontrar a felicidade que eu esperava sentir no fim do curso!

Estes são os professores maravilhosos que deram seu sangue e suor - de
graça - durante estas nove semanas para fazer todo o processo possível.

domingo, 14 de novembro de 2010

Junk food

Sei que já andei falando sobre a alimentação durante o curso, mas acho que o assunto merece um post exclusivo. Antes de vir para cá, pensei que estes seriam os dois meses mais saudáveis da minha vida. Praticar yoga duas vezes por dia, não beber álcool (proibição imposta pelo Bikram) e comer comida saudável, ou seja, detox total! A prática de yoga aconteceu e estou seguindo a proibição de álcool (apesar de muuuuitas pessoas terem ignorado a "lei"), mas comida saudável não anda muito no meu cardápio, infelizmente...

Demos um baita azar com este hotel. É a primeira vez que o treinamento está sendo realizado aqui e possivelmente a última (segundo as palavras do próprio Bikram esta semana). Em todos os outros treinamentos, os alunos receberam um voucher de US$ 500 para comer e os respectivos hotéis tinham vários buffets ou então existiam vários restaurantes bons e baratos nas proximidades (uma das minhas professoras em Londres, que teve a sorte de fazer o curso no Hawaí, disse que comia sushi barato todo dia...). Aqui estamos isolados em uma área em que só existem hotéis, na beira da estrada, onde um shopping com uma praça de alimentação limitadíssima é a única opção além da comida caríssima aqui do hotel (isso para as pessoas que não têm carro, como eu). O Bikram disse esta semana que uma das condições básicas em treinamentos é tratar bem seus alunos, ou seja, oferecer comida boa. Segundo ele, a direção do hotel é tão inflexível que proibiu qualquer tentativa deles de trazer comida de fora para cá e que no dia em que houve a pizza party na tenda os advogados dele tiveram de entrar em ação para entrarem com as pizzas na área do hotel!

Dito isto, todos estão se virando como podem para não gastar uma fortuna comendo no hotel e não perder meia hora para ir e vir do shopping durante os curtos intervalos que temos para tomar banho, comer e estudar. Nos dias de sorte, o Julien traz meu jantar (na quinta-feira comi um arroz e feijão campeão, com tilápia - diferente da nossa, delícia absoluta!!!) e meu café-da-manhã (pedaços de melancia, uvas e sanduíche de ovo frito com queijo). Porém, muitas vezes tenho de me contentar com a comida de microondas... Esta semana provei o Macaroni and Cheese do Trader Joe's (um supermercado natureba que existe nos EUA, onde todos os atendentes são extremamente gente boa). Muitas vezes esquento um saquinho de arroz Uncle Ben's e um pacote de lentilhas indianas. Também andei comendo as trash Cup Noodles para matar minha fome entre uma palestra e uma aula ou mesmo depois de uma noite longa na tenda, antes de dormir. De manhã, no meu café-da-manhã/almoço às vezes é sopa de lata, pão com queijo, uma garrafinha de frapuccino do Starbucks (sensacional, não sei por que não vendem isso na Inglaterra!), pêra, iogurte... Nada muito empolgante. Às vezes acho que o cardápio explica minha falta de fome. Não sinto mais prazer em comer, o que é algo bem triste - e quem me conhece sabe que isso é grave!

Como se não bastasse, nunca comi tanto junk food em tão poucas semanas! Já devo ter comido uns cinco McFish com batata-frita (a minha colega chinesa costuma ir ao McDonald's e é a única comida que eu posso pedir para ela trazer, porque dá até medo dos cadáveres que ela traz quando vai aos restaurantes chineses - e não é porque não como carne, não. O negócio é feio, fedido e ela come como se fosse um neandertal, deixando uns nacos de carne babada, cheia de gordura, no prato. Eca!!!). E já devo ter tomado umas seis Coca-Colas! Ou pior: Pepsis, porque o hotel só vende Pepsi! Acho que foi na terceira semana que senti um desejo incontrolável de tomar uma Coca estupidamente gelada! Acho que meu corpo estava pedindo açúcar, mas não costumo tomar nenhum refrigerante que não seja água tônica e guaraná (que tomo em pequenas quantidades, raramente)!

A minha sorte é que do jeito que estou exercitando meu corpo aqui, não deu tempo para o junk food virar quilo extra no meu corpo. Acho até que talvez tenha emagrecido um pouco. Aliás, falaram que é normal até engordar aqui, muitas vezes inchar de tanto líquido que se toma, mas garantiram que tudo volta ao normal quando saímos daqui.
Não sei, estou sentindo meu corpo diferente, mas as diferenças são muito mais internas do que externas. Estou me sentindo tão forte, tão cheia de energia! Acho que as aulas de anatomia ajudaram, mas a prática de yoga contínua também fez eu acordar e sentir vários músculos nos quais nunca pensei!

Enfim, estou um pouco decepcionada com a minha dieta, mas sei que isso é o que menos importa neste curso. O importante é que estou produzindo energia suficiente para manter meu corpo praticando yoga, assistindo a palestras, memorizar texto e dormindo menos horas do que o normal. Só torço para minha vontade de comer coisa gostosa voltar quando sair daqui e espero deixar de desejar Coca-cola. Se bem que acho que isso vai ser fácil quando eu puder voltar a tomar uma cervejinha gelada!!!

Esta é a típica cara de uma pessoa depois de praticar uma aula de Bikram
Yoga. Corpo cansado, suado, mas espírito pulando de felicidade! Esta aí
comigo é a Nicole, de Chicago, uma das pessoas das quais vou
sentir muita falta quando for embora...

sábado, 13 de novembro de 2010

Fim da semana 8!!!

A pessoa quase não ficou tímida (cara de tomate)... Rajashree e Bikram.
Ok, foi um momento tiete, mas se eu não fizesse isso, me arrependeria depois!

Esta semana foi mais uma daquelas em que minhas emoções foram para cima e para baixo. As posture clinics terminaram,  o que me deixou bastante feliz. E bastante triste.

A última foi na quinta-feira, apenas porque o Bikram queria estar aqui quando a gente terminasse, pois poderíamos ter terminado na terça ou no máximo na quarta. Ou seja, aquela agonia de se livrar logo da última posição foi estendida e por isso tinha decidido ser uma das primeiras a subir para falar. Não deu certo, pois justamente na última posture clinic resolveram chamar o pessoal em ordem alfabética, o que estendeu minha agonia um pouco mais...

Mas foi uma posture clinic diferente. Apesar de terem pedido para não aplaudirmos ninguém, desrespeitamos as regras e aplaudimos um por um pelo feito de finalmente ter encerrado as 24 posições (nós não falamos as respirações do começo e do final, que eu ainda tenho de decorar, aliás)! Na última pessoa de cada grupo todos - cerca de 50 pessoas - demonstraram a posição. E, apesar de eu ter ficado nervosa antes de falar, como sempre acontece, quando chegou a minha vez estava relaxada, saboreando cada palavra que saía da minha boca. E acabou!!!! Todos se abraçaram, pularam, gritaram e muitos - lógico que eu estava no meio - derramaram algumas lágrimas.

Chorei de alívio, de cansaço, mas chorei principalmente por saber que nunca mais vamos estar juntos em um momento tão especial da nossa vida. Não vamos mais rir e chorar juntos como fizemos todos os dias durante estas últimas semanas. E vou sentir muita, muita falta de todas estas almas especiais que conheci aqui.

Aliás, duas pessoas do meu grupo, a Nadine e o Phillip, foram tão fofos que entregaram um troféu para todo mundo no final da posture clinic. Recebi o troféu "Machine Gun (best dialogue delivery)"!!!

É bom saber que daqui a pouco volto para o mundo normal, volto para perto do Julien e da Mila em tempo integral, e que vou virar uma professora desta yoga que tanto amo! Mas dá a maior tristeza e dor-de-barriga deixar estas pessoas maravilhosas para trás, embora eu saiba que onde quer que eu vá, se alguma delas morar ali, vou ter um lugar para ficar. E chega de escrever, porque já chorei no final da aula de hoje cedo e já começo a sentir algumas lágrimas querendo se esparramar por aí!

Eu durante a última posture clinic, falando a Spine Twisting Pose.
A galera comemorando o fim da posture clinic!

quarta-feira, 10 de novembro de 2010

Minha primeira aula

Conseguiiiiiiiiiii a minha primeira aulaaaaaaaaa, eeeeeebaaaaaaa!!!!! Vai ser dia 1º de dezembro, na Bikram Yoga North Beach, em São Francisco!!! Estou tão feliz, tão feliz!!!! E tããããooooo nervosa e ansiosa... Aqui a gente não pratica nenhuma aula inteira de diálogo, apenas as posições uma por uma, e só um dos lados (quando tem direita e esquerda) e apenas uma vez cada posição (todas são feitas duas vezes, na maioria delas a primeira vez é mais longa e a segunda é mais curta, ou seja, você precisa adaptar o diálogo para encurtar a posição). Juntar tudo e dar uma aula de 90 minutos vai ser um graaaaande desafio! Bom, estou organizando uma aula de mentirinha com algumas meninas do meu grupo que já tem aulas marcadas, para vermos o que sai e identificarmos onde temos de melhorar. Acho que vamos fazer isso no começo da semana que vem. Mas estou tão feliz que não vou ter de esperar eternamente para dar minha primeira aula, eba!!!!

Mudando de assunto, preciso contar o que aconteceu com a menina que discutiu com o Bikram. Aquela reunião na tenda na tarde de segunda-feira foi para falar sobre o caso, entre outras coisas. Todo mundo expressou sua decepção com a decisão do Bikram e o Dom disse que ele também não queria que isso acontecesse, mas falou que a decisão do boss é a decisão do boss e que a melhor coisa que a menina poderia fazer agora - se um dia ela ainda quiser virar professora - era deixar o curso e o hotel. Ele também disse que a melhor forma de nós ajudarmos era não se envolver com o caso, pois era algo que o Bikram e ela tinham de resolver.
O dia todo foi bem estranho, pois todos ficaram tristes com o caso, um mal-estar estava pairando no ar. Mas, depois de muito refletir e pensar sobre o comportamento dela durante todo o curso várias pessoas - inclusive eu - concluíram que talvez tudo isso esteja ocorrendo para o bem dela (isso se o Bikram realmente deixá-la concluir o curso em um próximo treinamento e isso se ela o quiser).

Todos os professores dizem que seu comportamento na sala de yoga reflete como você é na sua vida fora dali. Ela nunca fez uma aula inteira - sempre sentava no meio das posições, caía na risada, sentava na esteira para misturar as águas e os electrolytes dela e acabava tirando a concentração das pessoas em volta dela. Ela sempre foi muito crítica do Bikram e enquanto todos riam da própria desgraça de ter de assistir aos intermináveis filmes de Bollywood, ela protestava, ficava brava e criticava todo o processo.

Como o Dom disse para nós na tenda, muitas pessoas ficaram revoltadas com o que o Bikram falou, inclusive os professores, mas todos nós optamos por não ir lá confrontá-lo, simplesmente porque nosso lado racional falou mais alto do que o emocional. E ela deixou a emoção tomar conta e foi lá discutir com ele. O que eles discutiram ninguém sabe ao certo. Mas todos acreditam que, pelo que conhecemos da menina, a versão de tê-lo xingado é algo bem plausível. E talvez neste momento todos nós queremos acreditar que ela o tenha xingado, apenas porque é mais fácil aceitar a decisão do Bikram assim...

Enfim, como disse uma professora durante uma das aulas estes dias, isso aqui é como uma família. Muitos parentes têm opiniões diferentes da nossa, mas temos de aprender a conviver e respeitar um ao outro.

Depois de muita conversa com outras duas alunas, a menina resolveu deixar o hotel e se hospedar em outro hotel aqui perto na esperança de conversar com o Bikram para pedir desculpas. Eu sinceramente acho que ele não vai querer falar com ela agora. Mas espero que os dois resolvam tudo isso e que ela tenha a chance de concluir essa jornada que ela começou. Talvez a jornada dela tenha de apenas ser um pouco mais longa para ela refletir se é isso mesmo que ela quer...

Perto do fim

Estou a poucas horas da minha última posture clinic e não vejo a hora de me livrar da Spine Twisting Pose! Como já escrevi, as posture clinics ficaram bastante cansativas - e chatas -, portanto vai ser um alívio para todos nós quando este dia acabar! Alguns poucos sortudos já terminaram ontem e disseram que a sensação é beeeem boa...

Por outro lado, concluir as posture clinics é um sinal de que o fim do curso está próximo e que é hora de pensar no futuro fora da "bolha de yoga" em que estamos. Andei ficando bastante ansiosa nos poucos momentos livres que tenho para pensar nisso e no domingo, após um jantar com o pessoal do nosso grupo, fiquei bem nervosa. Muitas das minhas amigas do grupo já têm aula marcada para segunda-feira após o curso! Algumas até já estão na programação do estúdio para dar uma aula por dia durante a semana toda!

Eu, por outro lado, não sei nem em que país vou morar no mês que vem. Como todos os professores aqui nos recomendam a dar a primeira aula assim que pusermos os pés fora do hotel, comecei a procurar uma aula para dar em Los Angeles ou São Francisco, para onde vamos depois daqui. Quase não recebi resposta de ninguém e as duas que recebi foram negativas. Agora adotei uma tática mais agressiva, já que não sei mesmo o que o futuro me reserva. Comecei a enviar e-mails para todos os anúncios de emprego do site oficial da Bikram Yoga, seja nos EUA ou no Canadá. Estou até pensando em mandar para a Austrália...

Estou chateada de ainda não saber quando será minha primeira aula. Porém estou bem feliz por algumas das minhas amigas já começarem a ensinar e na segunda-feira depois do curso já tenho mais uma aula dupla programada! A primeira será a da Sophie, de manhã, aqui em San Diego. E a segunda é à noite, em Los Angeles, com a Laura. Tenho certeza que elas vão arrasar na primeira aula e quero estar lá para dar todo o apoio que elas merecem!

segunda-feira, 8 de novembro de 2010

Triste preconceito

Há algumas semanas, já vinha pensando que a criação do Bikram era bem mais brilhante do que seu criador. E na sexta-feira tive certeza disso. Hoje tenho mais certeza ainda!

Durante a aula da sexta-feira, o Bikram começou com seu blá-blá-blá costumeiro. Às vezes ele conta piadas machistas, às vezes conta episódios da vida dele e às vezes expõe suas opiniões, que, muitas vezes contradizem totalmente a da maioria dos alunos. Este foi o caso na sexta-feira. Ele começou falando da tarefa das mulheres no mundo, da dos homens e até aí estava tudo bem. Aí ele disse que as mulheres têm de parar de "bitch, bitch, bitch" (ou seja, encher o saco dos homens), porque os homens acabam substituindo as mulheres por outros homens e morrem de AIDS. Ai.
Disse que o você vem ao mundo com um karma e tem de executar o que foi destinado a fazer e não tentar se mudar. Ai.

Saí de lá decepcionada com ele, mas como ele já disse outras coisas antes das quais discordei e como sei que ele infelizmente não é o único preconceituoso a pensar assim, segui em frente. Afinal, vim aqui praticar yoga e virar uma professora. Disse ao Julien que definitivamente não consigo ver o Bikram como o meu guru espiritual e sim apenas meu guru de hatha yoga e acho uma pena ele pensar assim e falar isso para todo mundo ouvir sem ser punido por isso. O melhor professor que veio aqui dar aula para nós é o cara mais gay que já vi, como ele pode falar uma coisa dessas???
Mas uma outra aluna ficou muito mais revoltada do que todos nós. Ou melhor, resolveu expressar a revolta dela de forma mais contundente. Fiquei sabendo hoje que ela começou a gritar do canto da sala em direção ao pódio quando o Bikram estava falando essas barbaridades, depois enrolou a esteira dela e saiu. Um dos funcionários tentou acalmá-la, mas não teve jeito. Quando o Bikram saiu, ela foi falar com ele e o xingou de "asshole". Pelo menos esta é a fofoca que rola. Já a colega de quarto dela diz que ela apenas falou para ele que ele quebrou seu coração com o que falou durante a aula.

Após todo o bafafá, resolveram expulsá-la do curso. E do hotel. Ameaçaram chamar a polícia para tirá-la daqui se ela não sair por conta própria. E pelo que conheço dela, ela não vai sair. Eu também não sairia! E já disse que vai espalhar a história na imprensa.

Além disso, ela resolveu organizar um protesto - está pedindo para ninguém aparecer na aula do Bikram esta tarde. No começo, concordei prontamente e disse que não iria. Mas é aquele velho problema de greve. Se um furar, todos os outros vão sair prejudicados. Quero apoiar a menina (apesar de também achar que ela não tinha o direito de desrespeitá-lo, por mais que a opinião dele seja absurda), mas tenho medo de não me formar e jogar toda grana e todo o esforço gastos para este curso pelo ralo.

Nos chamaram para uma reunião na tenda antes da posture clinic. Acho que o assunto será este. Vamos ver o que acontece. Conto para vocês à noite!

sábado, 6 de novembro de 2010

Fim da semana 7!!!


Acabou mais uma semana! E nesta semana, mais do que em todas as outras, todo mundo estava contando os dias para o sábado porque a nossa rotina foi um pouco cansativa e entediante. Nada de noites muito longas, nada de filmes de Bollywood, mas muitas, muitas posture clinics. Como o Bikram estava bem ocupado com o pessoal do curso avançado e também porque precisamos concluir as posture clinics no começo da semana que vem, tivemos sessões à tarde e à noite, todo santo dia.

Para tornar as sessões menos entediantes (já que são 3h30 à tarde e 2 horas à noite que ficamos sentados no chão, ouvindo um por um recitar o mesmo diálogo), alguns professores - os bons - pediam para nós ficarmos alertas aplaudindo quem está lá na frente, dando apoio, e todo mundo começou a ficar bem bom nisso. O nosso grupo inventou vários "gritos de guerra" sempre que algum de nós levantava para recitar o diálogo (frases que para quem não está aqui não fazem o mínimo sentido, mas vou escrever assim mesmo. Vai que alguém faz este curso no futuro e lê este blog... "Fun, fun, fun, 15 (é o número do nosso grupo)!!!" foi o primeiro. Depois, as demais versões, que fazem os outros grupos cair na risada são: "Trust, trust, trust, the process!" e "Stretch, stretch, stretch, the fascia!"). Estávamos tentando nos manter entretidos apesar do cansaço e do tédio da rotina repetitiva.

Mas, como sempre aparece um estraga-prazer, o Jeff, o marido da Lynn, que é a especialista das posture clinics, tornou tudo mais chato. Entrou na sala e após enumerar as regras de sempre (não mascar chiclete, não comer, não deitar, não conversar, desligar telefone, etc, etc), disse: "Nada de palmas. Nada de gritos de guerra. Não quero nenhum tipo de aplauso para a pessoa que está aqui na frente. Vamos tentar tornar o ambiente da posture clinic o mais parecido possível com uma aula normal, em que ninguém terá palmas nem apoio de ninguém."

E logo as regras do Jeff viraram a regra geral. Ficamos tão revoltados de tirarem nossa pequena alegria que quando o Bikram entrou na tenda para uma palestra à noite, ninguém aplaudiu - o que foi bem estranho, já que ele sempre é ovacionado quando entra na tenda. As palmas são nossa forma de demonstrar coletivamente que concordamos com algo ou gostamos de algo e nos sentimos todos um pouco atados com a nova regra. Mas, como me prometi que daqui para a frente não vou me deixar afetar com coisas sem importância, chega de falar sobre isso!

Estou sentindo falta de informação. Estou sentindo falta até dos filmes. Acho que às vezes meu espírito de jornalista vem à tona e implora por informação, novidade, meus dedos querem escrever, meus olhos querem ler, quero me alimentar com o desconhecido. E tem tanta coisa sobre yoga que ainda quero saber!

Mas acho que semana que vem tudo vai ficar melhor! Vamos concluir as posture clinics e aí o Bikram vai demonstrar cada uma das posições, explicar, discutir o diálogo, a Rajashree vai falar sobre os efeitos terapêuticos de cada posição, vai falar sobre a série para grávidas (que eu pratiquei durante minha gravidez) e sem a pressão da decoreba, da repetição incansável do diálogo, acho que tudo vai ficar bem mais interessante!

Fisicamente, tive algumas reações esquisitas esta semana. Primeiramente, meu joelho direito começou a reclamar, mas peguei leve nas posições que forçam mais o joelho e no final da semana ele voltou ao normal. Na quinta-feira, senti um mal-estar geral, uma canseira imensa e uma quebradeira. Além disso, comecei a sentir dores fortes na minha mandíbula. Não conseguia mais mastigar nada! Minhas costelas também começaram a doer, ou melhor, os músculos ao redor delas, acho que por causa das inspirações profundas que damos durante a aula. Apesar de isso tudo ser meio chato, vejo as dores como algo positivo, acho que meu corpo está todo se ajustando e se equilibrando.

Para os que não leram os comentários do post anterior, o clima com a minha colega de quarto voltou a ficar melhor. Em uma das aulas da manhã, o Bikram repetiu algo que ele vive dizendo, que praticar Bikram Yoga te deixa "bullet proof, pain proof" e que quando você sai da sala nada nem ninguém pode roubar sua paz. Resolvi adotar esta atitude e voltar para o quarto como se nada de ruim tivesse acontecido entre nós, cumprimentei a menina com um sorriso e qual não foi minha surpresa quando ela respondeu com um sorriso! Pois é, Ricardo, talvez aprendizes de yogi estejam aprendendo algo aqui no fim das contas... Assim eu espero pelo menos! :-)

Apesar da regra de não deitar durante as posture clinics, o cansaço muitas vezes fala mais alto...

Aqui a Carolina está tirando um cochilo. Os professores estão ali no fundo.
Este foi o último aluno que recitou a pose ontem e praticamente todo mundo demonstrou para ele!

quinta-feira, 4 de novembro de 2010

Tentando entender...

Antes de entrar no assunto do título deste blog, quero contar que o Julien veio fazer uma aula na tenda hoje!!! Estava rezando para ser o Bikram, já que ontem ele não deu a aula matinal para nós, e foi! A sala estava bem quente e úmida, todo mundo sofreu, mas o Julien aguentou até o fim e mandou superbem (sem forçar o joelho, que está bem machucado)! Estou tão orgulhosa e feliz de ele ter tido esta experiência única de fazer a aula do "boss", com outras 600 pessoas na mesma tenda!

Agora a parte chata. Anteontem uma almofada de haloween que eu tinha comprado para dormir desapareceu do nosso quarto. Sumiu. Como os caras da limpeza às vezes fazem a maior zona nos quartos (são 400 yogis morando aqui e outros 200 adicionais esta semana, fora todos os outros hóspedes), achei que por engano tinham levado minha almofada para outro quarto. Liguei nos achados e perdidos e nada.
Eis que ontem à noite, quando voltamos da tenda, a minha colega de quarto sente a falta do sagrado tapa-olho que ela usa para dormir. Ela ficou possessa, revoltadíssima, revirou o quarto inteiro e não achou o maldito tapa-olho. Comecei a achar toda a situação extremamente esquisita, mas achei que de repente ela levou o tapa-olho para a tenda e perdeu no meio do caminho, sei lá...

Pela manhã, a menina não me dirigiu a palavra. Não olhou na minha cara. Aliás, acordou às 5h da matina, fez o maior baarulho e às 6h eu não conseguia mais dormir. Supus que ela ainda estava brava com o sumiço do tapa-olho (detalhe é que ela usou o reserva que ela tinha no carro). Quando ela saiu do quarto a única coisa que ela me disse foi: "Eu juro que não peguei sua almofada." E saiu andando! Demorou para cair a ficha, mas ela realmente estava me acusando de ter roubado o tapa-olho dela!!! Fiquei besta, falei para ela que nem passou pela minha cabeça que ela teria roubado minha almofada, mas a menina nem olhou para trás.

Falei com ela depois da aula, explicando que era muito estranho minha almofada sumir, mas que era ridículo eu pensar que foi ela. E que era muito estranho o tapa-olho dela sumir, mas que era ridículo ela pensar que fui eu. "Por que eu faria isso?", perguntei. E a resposta foi: "Exato! Por que? Eu já te falei que sumiram roupas de uma amiga minha de outro quarto, eu nunca toquei nas suas coisas, eu não peguei sua almofada, você sabe que eu preciso deste tapa-olho para dormir!"
MAS EU NÃO PEGUEI O TAPA-OLHO!!!!!!!!! Virei para ela e disse: "EU confio em você. Sei que você não pegou nada meu." E fui tomar banho.

Agora estou aqui no pé de alguma escada do hotel, sozinha, tentando entender o que o universo quer que  eu entenda. Não sei. Sei que estou me sentindo tão triste por alguém achar que eu seria capaz de alguma coisa tão mesquinha e por este alguém morar comigo no mesmo quarto pelas próximas duas semanas. Não sei. Se alguém tiver alguma idéia do que eu devo aprender com tudo isso, por favor, me digam. Qualquer opinião é bem-vinda. Preciso pensar, porque não sei como eu devo reagir a tudo isso...

quarta-feira, 3 de novembro de 2010

Semana 7!

Uau, dá para acreditar que já estamos na semana 7??? E no meio dela! O povo aqui adora quartas-feiras, porque dá uma impressão que a semana já está acabando (apesar de não estar), pois amanhã já é quinta, depois só falta a sexta e uma aulinha no sabadão!

A comunidade yogi no hotel aumentou consideravelmente esta semana, já que cerca de duzentas pessoas chegaram para o curso avançado de Bikram Yoga. O nosso treinamento é para a série de iniciantes, que tem 26 poses. A série avançada tem 84 poses e também é feita na sala aquecida. Pratiquei a série avançada cinco ou seis vezes antes de vir para cá e é muito, muito difícil (pelo menos para mim, que não sou muito flexível nem forte nos braços). Os alunos do seminário avançado fazem a aula da manhã com a gente e depois ficam para a aula avançada, que dura no mínimo duas horas. Isso significa que quem está dando aula de manhã é o Bikram, o que também significa que a nossa aula de 1h30 acaba sendo de quase 2 horas!

Na segunda-feira de manhã estava todo mundo podre e duro do fim-de-semana e o Bikram falou que não sabia que éramos tão ruins de manhã, hahaha! Ele disse que também ainda estava dormindo e que os olhos dele não conseguiam se abrir às 8h30. Mas o cara é duro na queda e deu a primeira aula, deu a aula avançada e à noite ainda deu uma palestra de duas horas. E lá estava ele na manhã de terça-feira para outras duas aulas seguidas! Hoje, no entanto, ele não apareceu, provavelmente porque ontem ele participou da festa da vitória do democrata Jerry Brown, que venceu as eleições para governador da Califórnia.

Como Bikram participou desta festa ontem, acabamos tendo outra posture clinic à noite e hoje vamos ter duas novamente, o que significa que vamos ter de apresentar duas poses por dia e possivelmente acabaremos com a série esta semana. Por um lado, acho ótimo, porque assim não preciso estudar no próximo fim-de-semana e posso curtir mais com a minha mãe aqui. Por outro lado, preciso estudar bastante em todos os intervalos esta semana, já que as últimas poses foram as que estudei menos em Londres e não lembro mais de nada! Mas, como dizem muitos professores aqui: "It's all good!"

Aliás, estou indo superbem nas posture clinics! Estou apresentando minhas poses com muitos alunos demonstrando, alguns fazendo erros para eu corrigir no meio do diálogo, e o Miles - um professor australiano ótimo que volta e meia pega o nosso grupo - disse que adoraria fazer a minha aula e até me chamou de rock star depois da posture clinic! Estou feliz e muito, muito agradecida por toda esta energia positiva que estou recebendo do meu grupo e dos professores nas posture clinics e quero trabalhar duro até o fim (apesar do cansaço e do tédio que está começando a bater com esta rotina repetitiva de posture clinic) para mandar bem até o final!

As coisas aqui no quarto estão bem com a minha colega, que neste momento, aliás, não pára de falar e não consigo nem me concentrar para digitar. Agora a menina só quer saber de conversar, conversar, conversar! Não vou reclamar, melhor assim, né?! Desculpem por quaisquer erros neste post (prometo corrigir depois), porque realmente não estou conseguindo me concentrar com a menina querendo conversar comigo aqui do meu lado sem parar! :-)