quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

Primeira aula

Foram dias de agonia, de estudo, de repetição de diálogo em casa, no carro na estrada enquanto a Mila dormia (o Julien não aguenta mais eu murmurando "Arms over your head sideways", "Lock the knee", etc e tal), no chuveiro ("Inhale, head down, full lungs... Exhale, head up, slowly push your head back, way, way, waaaaay back), três aulas fictícias tendo a mesa de centro e as paredes de alunos (a primeira aula durou 108 minutos em vez de 90...)...

Já estava ficando altamente ansiosa lendo todos os posts dos meus colegas de treinamento no Facebook contando sobre suas primeira, segunda e terceira aulas, enquanto eu estava aqui, dando aula para o sofá. Mas acho que estes dez dias foram altamente bons para me acalmar, solidificar o diálogo na minha cabeça e estar tinindo para a primeira aula hoje cedo, que finalmente chegou!!!

Ontem fui ao estúdio onde gentilmente me cederam uma aula para ensinar hoje e pratiquei para sentir o clima dos alunos, do lugar e conversar com o Johnny, o diretor do estúdio, que é extremamente gente boa e participou das posture clinics durante nosso treinamento. O estúdio, Bikram's Yoga North Beach, em São Francisco, é o primeiro estúdio de Bikram Yoga aberto no mundo! Uau, que honra, não???



A aula de ontem já me tranquilizou bastante. Os alunos eram todos veteranos, a sala é pequena, ou seja, provavelmente eu teria uns 10 alunos no máximo (muito diferente dos 70 das aulas mais concorridas de Londres) no horário da manhã (às 9h), que é universalmente o horário mais tranquilo nos estúdios. A professora, inclusive, trocou umas "direitas" e "esquerdas" durante a aula e ninguém ligou, já que todo mundo sabia o que fazer e estava altamente concentrado em sua prática.

Acordei cedinho para sair a tempo e não me atrasar, já que ontem peguei um baita trânsito e cheguei lá às 9h para a aula. Fiquei repetindo a respiração inicial em voz alta dentro do carro e acabei pegando o caminho errado para chegar lá, mas tudo bem, estava com tempo. Cheguei mais de uma hora antes da aula, o dono do estúdio nem tinha chegado ainda!

Fiquei na recepção vendo o pessoal chegar quando entrou uma menina perguntando sobre o pacote promocional (que normalmente é para iniciantes) e tremi pensando que iria ter o azar de ter um iniciante na minha primeira aula! Mas o pacote promocional era para um albergue da região (uuufaaaaa) e a menina já tinha feito algumas aulas de Bikram (durante a aula percebi que não eram muitas e no final ela disse que praticou cinco, no máximo)!

Roupa nova, microfone de Madonna na cabeça, garrafa de água na mão e lá entrei eu no estúdio, todos os olhos voltados para mim no pódio. "Hello, my name is Andrea, I am your yoga teacher this morning." Vocês não têm noção quantas vezes tivemos de repetir antes de cada pose nas posture clinics: "My name is ... I AM your yoga teacher.", e agora estava falando para valer!

Foi bom ouvir minha voz no microfone, me remeteu aos meus bons tempos de rádio. Conduzi todos no pranayama, mas esqueci totalmente a ordem que estava acostumada a repetir. Durante a série de pé troquei algumas "direitas" e "esquerdas" (já que ficamos de frente para os alunos e a nossa direita é a esquerda deles e vice-versa), acho que certas vezes troquei algumas frases, utilizando-as em outras posições, mas não me deu nenhum mega-branco, segui em frente sem parar e, depois da série de pé, antes da savasana, o diretor, Johnny (que estava praticando para me dar o feedback da aula depois), olhou para mim com um largo sorriso no rosto e os dois polegares apontados para cima, mostrando que eu estava indo bem!

Tenho de dizer que fiquei com certa dó dos alunos. A sala ali é bem quente e estava todo mundo vermelhaço, suando loucamente, sofrendo bastante e eu tinha a impressão de que possivelmente a culpa era minha (bons professores sabem manter o ritmo certo da aula, sem matar ninguém, e em alguns momentos eu acho que estava acelerando muito). No fim da aula, após "colocar" todo mundo em savasana, agradeci a presença de todos e disse me sentir honrada de ter dado a aula e, na sequencia, mandei uma frase que não deveria ter dito: "I hope I didn't kill you too much". O Johnny disse para mim depois: "Não peça desculpas por matá-los, eles pagam para isso!" E quantas vezes eu ouvi isso durante o treinamento... A verdade é que as aulas mais sofridas costumam ser as mais gratificantes (depois do banho!). Um tiozinho chinês (que estava na aula de ontem também), disse que foi uma "morte lenta", mas cheia de ritmo, o que fez com que ele não parasse.

O feedback do Johnny foi altamente positivo! Ele disse que foi uma das melhores primeiras aulas que ele já praticou! Yeeeeeessssss!!!! Disse que eu tenho uma voz muito poderosa e que eu deveria mesmo abrir um estúdio no Brasil, porque ele tem certeza de que seria um sucesso! "You will be a great, great yoga teacher, no doubt about it!" Yeeeeeessss, fiquei tão feliz com o feedback dele! Ele também me deu umas dicas de onde melhorar, o que era bom eu estudar mais e me disse para ler todo o diálogo ainda hoje, com a aula fresca na memória, para ver o que eu esqueci, o que eu troquei etc.

Tenho de dizer que me senti bem menos nervosa do que esperava. Acho que o tempo de estudo depois do treinamento e antes da primeira aula foi fundamental para isso. Trabalhei meu espírito para esta aula e repeti inúmeras vezes que é "apenas yoga" e se der tudo errado nunca mais veria aquelas pessoas novamente! Aliás, quero muuuuito voltar a dar aula neste estúdio no futuro! E o Johnny falou que sou extremamente bem-vinda e ele adora ver o progresso dos novos professores meses após eles terem dado a primeira aula. Segundo ele, é uma mudança imensa!

Tenho muito de aprender, tenho de continuar estudando, continuar praticando, continuar dando aula até me sentir mais confortável e tudo isso me deixa extremamente animada, pois é uma longa jornada, mas altamente gratificante! Sinto ter uma segunda profissão e espero me sentir mais confortável em breve ao me denominar "professora de yoga"!

Com este post, concluo este blog. Obrigada a todos vocês que participaram desta jornada, que me apoiaram (enviando posts, tentando enviá-los sem sucesso ou simplesmente lendo e me enviando energia positiva para seguir em frente) e torceram por mim. Espero que, no futuro, todos vocês façam uma aula comigo!

domingo, 21 de novembro de 2010

Formatura


O dia amanheceu mais com cara de Londres do que de Califórnia. Céu cinzento, frio e muita, muita chuva. Aliás, muito mais chuva do que em Londres. Arrumei minhas coisas - é impressionante como você acumula tranqueira morando dois meses em algum lugar, mesmo em um quarto de hotel - esperei ansiosamente o Julien e a Mila chegarem (a Mila resolveu dormir até mais tarde justamente ontem!) me despedi da taiwanesa e saí do hotel rumo ao nosso apartamento. 

Quando vi já eram 13h e nem tinha saído para comprar o colar que tinha visto há duas semanas para combinar com a minha roupa. E às 14h30 tínhamos de estar lá no centro de convenções do hotel para começar a cerimônia de formatura às 15h em ponto! Depois do corre-corre, estávamos saíndo de casa às 14h25, sem almoço. Paciência. Compramos um franguinho para a Mila no drive-thru e fomos para o hotel.

Porém, como diz o Bikram, "we are not business people, we are yogis, we only know how to lock the knee", e nada começou no horário. a Rajashree fez um discurso, depois veio a demonstração de um grupo de 30 alunos do curso de todas as posições da série (foi lindo!!!! Eles treinaram mais de uma semana, todos os dias ficavam mais de uma hora na sala quente após cada aula - duas vezes por dia - para aperfeiçoar a técnica e a sincronização. E valeu a pena!), depois troféus para alguns alunos e quando chegou a hora do discurso do Bikram já estava todo mundo verde de fome. E nada de comida, nem para os convidados. Só água.

A demonstração dos alunos (obviamente os mais flexíveis do curso!)

O discurso do Bikram foi bonito. Ele começou agradecendo às famílias de todos os alunos pelo sacrifício que elas fizeram para nós estarmos aqui, dizendo que foram os nossos parentes que mais se esforçaram durante estas nove semanas. E concordo com ele. Sei que não foi fácil nem para o Julien nem para a Mila e os agradeço imensamente por me ajudar a tornar este meu sonho possível. Obrigada, obrigada, obrigada, meus amores! Não sei o que faria sem vocês. Obrigada também à minha mãe e ao meu pai, que apesar de terem tido lá suas restrições em relação ao curso, me encorajaram para eu seguir em frente e realizar meu sonho. Obrigada a todos vocês.

O Bikram também lembrou que este é o início da nossa jornada e que estas nove semanas apenas nos prepararam para ser professores e que o verdadeiro desafio começa agora. Disse que somos pessoas diferentes e, pela primeira vez, nos chamou de yogis! Disse que nos tornamos "fireproof, bulletproof, emotionproof, sexproof, painproof", porque somos yogis e estamos acima do chão. Sinceramente, acho que ainda não cheguei neste nível, mas aprendi o caminho para chegar lá. "And I declare you, Bikram Yoga graduates!", disse ele no final. Quase chorei.

Como tudo se atrasou e todos estavam morrendo de fome, resolveram apressar o processo de entrega dos diplomas. Cada um ficava pouco mais de dez segundos no palco, para receber o diploma e tirar a foto oficial ao lado do Bikram.

Making-off da minha foto oficial (que ainda não tenho)
Não preciso nem dizer que o buffet foi um caos. Fila de uma hora, todos esfomeados e vários indo embora para dar uma passadinha no pub e tomar uma cerveja antes de comer (perto do Bikram nada de álcool nem de cigarro, portanto na festa só havia água e refrigerante). E foi aí que deixei de me despedir de muita gente, porque algumas pessoas acabaram nem voltando.

Nós ficamos lá, comemos, tomamos muita água (e o Julien Coca-cola), a Mila arrasou na pista de dança (até o Bikram dançou com ela!) e finalmente me senti realizada. Concluí um sonho de três anos e estou feliz de ter dado alguns importantes passos no que considero ser a direção certa do meu destino. E espero que nos próximos meses eu siga em frente neste caminho e ajude muitas pessoas a encontrar a direção certa de seus próprios caminhos.

A representação brasileira do curso: Cassiano, Jeane e eu!
(Tinha mais uma brasileira, a Paula)
Estou nervosa e ansiosa com a primeira aula e, como diz o Dom, o ciclo só se fecha quando você dá sua primeira aula. Por outro lado, estou ansiosa e animada com todas as transformações que tenho certeza que vão ocorrer na minha vida como professora de yoga e, principalmente com as transformações que vou ajudar a começar na vida de meus futuros alunos. Eu acredito com toda minha alma no poder da yoga, principalmente da Bikram Yoga (pelo menos para o estilo de vida de nós, ocidentais), e espero convencer todas as pessoas que eu amo a pelo menos fazer uma semana de aula. Não tenho dúvidas que alguns vão acabar passando nove semanas de suor em algum lugar dos Estados Unidos no futuro...

E como o ciclo só termina com a primeira aula, aguardem o último post deste blog, no dia 1º de dezembro!

O melhor prêmio do mundo no fim do curso: diploma
e meus dois amores de volta!
Karla (do meu grupo) e eu com a
princesa da festa.

Mila arrasando na pista de dança (fez o maior escândalo na hora de
ir embora!)

sábado, 20 de novembro de 2010

97 aulas depois...

Começo da última aula.


Acabooooouuuuu!!!!! Ontem à noite foi a nossa última aula, a 97ª, para quem não fez nenhuma aula extra durante os fins de semana (meu caso)! Missão cumprida!

Estou bem orgulhosa, bem feliz, bem satisfeita com o feito, mas pensei que estaria pulando de emoção e euforia. Mas não estou. Estou sentindo exatamente o que costumava sentir após as excursões do colégio. Após quatro dias intensos de diversão e união com todos os meus colegas de classe, sentia um imenso vazio na barriga, um furo, ao voltar para a casa. Me sentia extremamente sozinha. E é como estou me sentindo agora.

Ontem à noite acabamos não tendo palestra com o Bikram, então fomos liberados por volta das 22h, com  a opção de voltar para o último filme bollywoodiano às 23h30, com a presença do Bikram. Tinha me prometido que na última noite iria assistir ao filme, como despedida. Antes, passei no quarto da Sophie e ela e a colega de quarto, Susan, abriram um vinho para comemorarmos o fim do curso. Por volta das 0h30 descemos para a tenda e o Bikram ainda não tinha chegado para o filme. Cerca de 50 pessoas pacientes esperavam desde às 23h30... Bom, depois de 15 minutos ele chegou e começamos a assistir ao filme. Acabei deitando em 4 cadeiras, com cobertor, e por volta das 2h da matina adormeci. Quando acordei, às 2h30, só havia no máximo 8 pessoas na tenda, cinco delas dormindo, além do Bikram, é claro. Me senti tão triste, com aquela sensação de fim de festa, e senti falta de todas aquelas pessoas enchendo a tenda de barulho, vida e energia. Levantei e fui para o quarto. E adormeci triste.

Fim da última aula.


Estou feliz de voltar ao dia-a-dia com meus dois amores, afinal morri de saudades deles o curso inteiro! Mas estou muito, muito triste de me separar de tantas pessoas especiais que conheci aqui, de sair deste ambiente seguro que, apesar de muitas vezes difícil, faz nos sentir amados. A ligação que todos nós criamos durante estas nove semanas é algo impressionantemente intenso.

Última noite na tenda.


Várias pessoas aqui estão apreensivas de voltar ao "mundo normal", porque, além da união com o grupo, todos nós estamos nos sentindo diferentes. Provavelmente, algumas coisas nas nossas vidas vão mudar daqui para a frente e eu só espero que seja para a melhor.

Enfim, a vida continua e não podemos parar (nem voltar) o tempo, certo? O importante é seguir em frente, com determinação, coração e mente abertos, pensamento positivo, humildade e honestidade e sinceridade. E como diz o Bikram, só se preocupe em dar, dar, dar, sem nunca esperar nada em troca. É assim que você recebe tudo o que você precisa e muito mais.

Este ainda não é o último post, mesmo porque não quero terminar meu blog com este desânimo. Hoje é nossa graduação, seguido de jantar e festa na tenda! Amanhã tem mais e espero encontrar a felicidade que eu esperava sentir no fim do curso!

Estes são os professores maravilhosos que deram seu sangue e suor - de
graça - durante estas nove semanas para fazer todo o processo possível.

domingo, 14 de novembro de 2010

Junk food

Sei que já andei falando sobre a alimentação durante o curso, mas acho que o assunto merece um post exclusivo. Antes de vir para cá, pensei que estes seriam os dois meses mais saudáveis da minha vida. Praticar yoga duas vezes por dia, não beber álcool (proibição imposta pelo Bikram) e comer comida saudável, ou seja, detox total! A prática de yoga aconteceu e estou seguindo a proibição de álcool (apesar de muuuuitas pessoas terem ignorado a "lei"), mas comida saudável não anda muito no meu cardápio, infelizmente...

Demos um baita azar com este hotel. É a primeira vez que o treinamento está sendo realizado aqui e possivelmente a última (segundo as palavras do próprio Bikram esta semana). Em todos os outros treinamentos, os alunos receberam um voucher de US$ 500 para comer e os respectivos hotéis tinham vários buffets ou então existiam vários restaurantes bons e baratos nas proximidades (uma das minhas professoras em Londres, que teve a sorte de fazer o curso no Hawaí, disse que comia sushi barato todo dia...). Aqui estamos isolados em uma área em que só existem hotéis, na beira da estrada, onde um shopping com uma praça de alimentação limitadíssima é a única opção além da comida caríssima aqui do hotel (isso para as pessoas que não têm carro, como eu). O Bikram disse esta semana que uma das condições básicas em treinamentos é tratar bem seus alunos, ou seja, oferecer comida boa. Segundo ele, a direção do hotel é tão inflexível que proibiu qualquer tentativa deles de trazer comida de fora para cá e que no dia em que houve a pizza party na tenda os advogados dele tiveram de entrar em ação para entrarem com as pizzas na área do hotel!

Dito isto, todos estão se virando como podem para não gastar uma fortuna comendo no hotel e não perder meia hora para ir e vir do shopping durante os curtos intervalos que temos para tomar banho, comer e estudar. Nos dias de sorte, o Julien traz meu jantar (na quinta-feira comi um arroz e feijão campeão, com tilápia - diferente da nossa, delícia absoluta!!!) e meu café-da-manhã (pedaços de melancia, uvas e sanduíche de ovo frito com queijo). Porém, muitas vezes tenho de me contentar com a comida de microondas... Esta semana provei o Macaroni and Cheese do Trader Joe's (um supermercado natureba que existe nos EUA, onde todos os atendentes são extremamente gente boa). Muitas vezes esquento um saquinho de arroz Uncle Ben's e um pacote de lentilhas indianas. Também andei comendo as trash Cup Noodles para matar minha fome entre uma palestra e uma aula ou mesmo depois de uma noite longa na tenda, antes de dormir. De manhã, no meu café-da-manhã/almoço às vezes é sopa de lata, pão com queijo, uma garrafinha de frapuccino do Starbucks (sensacional, não sei por que não vendem isso na Inglaterra!), pêra, iogurte... Nada muito empolgante. Às vezes acho que o cardápio explica minha falta de fome. Não sinto mais prazer em comer, o que é algo bem triste - e quem me conhece sabe que isso é grave!

Como se não bastasse, nunca comi tanto junk food em tão poucas semanas! Já devo ter comido uns cinco McFish com batata-frita (a minha colega chinesa costuma ir ao McDonald's e é a única comida que eu posso pedir para ela trazer, porque dá até medo dos cadáveres que ela traz quando vai aos restaurantes chineses - e não é porque não como carne, não. O negócio é feio, fedido e ela come como se fosse um neandertal, deixando uns nacos de carne babada, cheia de gordura, no prato. Eca!!!). E já devo ter tomado umas seis Coca-Colas! Ou pior: Pepsis, porque o hotel só vende Pepsi! Acho que foi na terceira semana que senti um desejo incontrolável de tomar uma Coca estupidamente gelada! Acho que meu corpo estava pedindo açúcar, mas não costumo tomar nenhum refrigerante que não seja água tônica e guaraná (que tomo em pequenas quantidades, raramente)!

A minha sorte é que do jeito que estou exercitando meu corpo aqui, não deu tempo para o junk food virar quilo extra no meu corpo. Acho até que talvez tenha emagrecido um pouco. Aliás, falaram que é normal até engordar aqui, muitas vezes inchar de tanto líquido que se toma, mas garantiram que tudo volta ao normal quando saímos daqui.
Não sei, estou sentindo meu corpo diferente, mas as diferenças são muito mais internas do que externas. Estou me sentindo tão forte, tão cheia de energia! Acho que as aulas de anatomia ajudaram, mas a prática de yoga contínua também fez eu acordar e sentir vários músculos nos quais nunca pensei!

Enfim, estou um pouco decepcionada com a minha dieta, mas sei que isso é o que menos importa neste curso. O importante é que estou produzindo energia suficiente para manter meu corpo praticando yoga, assistindo a palestras, memorizar texto e dormindo menos horas do que o normal. Só torço para minha vontade de comer coisa gostosa voltar quando sair daqui e espero deixar de desejar Coca-cola. Se bem que acho que isso vai ser fácil quando eu puder voltar a tomar uma cervejinha gelada!!!

Esta é a típica cara de uma pessoa depois de praticar uma aula de Bikram
Yoga. Corpo cansado, suado, mas espírito pulando de felicidade! Esta aí
comigo é a Nicole, de Chicago, uma das pessoas das quais vou
sentir muita falta quando for embora...

sábado, 13 de novembro de 2010

Fim da semana 8!!!

A pessoa quase não ficou tímida (cara de tomate)... Rajashree e Bikram.
Ok, foi um momento tiete, mas se eu não fizesse isso, me arrependeria depois!

Esta semana foi mais uma daquelas em que minhas emoções foram para cima e para baixo. As posture clinics terminaram,  o que me deixou bastante feliz. E bastante triste.

A última foi na quinta-feira, apenas porque o Bikram queria estar aqui quando a gente terminasse, pois poderíamos ter terminado na terça ou no máximo na quarta. Ou seja, aquela agonia de se livrar logo da última posição foi estendida e por isso tinha decidido ser uma das primeiras a subir para falar. Não deu certo, pois justamente na última posture clinic resolveram chamar o pessoal em ordem alfabética, o que estendeu minha agonia um pouco mais...

Mas foi uma posture clinic diferente. Apesar de terem pedido para não aplaudirmos ninguém, desrespeitamos as regras e aplaudimos um por um pelo feito de finalmente ter encerrado as 24 posições (nós não falamos as respirações do começo e do final, que eu ainda tenho de decorar, aliás)! Na última pessoa de cada grupo todos - cerca de 50 pessoas - demonstraram a posição. E, apesar de eu ter ficado nervosa antes de falar, como sempre acontece, quando chegou a minha vez estava relaxada, saboreando cada palavra que saía da minha boca. E acabou!!!! Todos se abraçaram, pularam, gritaram e muitos - lógico que eu estava no meio - derramaram algumas lágrimas.

Chorei de alívio, de cansaço, mas chorei principalmente por saber que nunca mais vamos estar juntos em um momento tão especial da nossa vida. Não vamos mais rir e chorar juntos como fizemos todos os dias durante estas últimas semanas. E vou sentir muita, muita falta de todas estas almas especiais que conheci aqui.

Aliás, duas pessoas do meu grupo, a Nadine e o Phillip, foram tão fofos que entregaram um troféu para todo mundo no final da posture clinic. Recebi o troféu "Machine Gun (best dialogue delivery)"!!!

É bom saber que daqui a pouco volto para o mundo normal, volto para perto do Julien e da Mila em tempo integral, e que vou virar uma professora desta yoga que tanto amo! Mas dá a maior tristeza e dor-de-barriga deixar estas pessoas maravilhosas para trás, embora eu saiba que onde quer que eu vá, se alguma delas morar ali, vou ter um lugar para ficar. E chega de escrever, porque já chorei no final da aula de hoje cedo e já começo a sentir algumas lágrimas querendo se esparramar por aí!

Eu durante a última posture clinic, falando a Spine Twisting Pose.
A galera comemorando o fim da posture clinic!

quarta-feira, 10 de novembro de 2010

Minha primeira aula

Conseguiiiiiiiiiii a minha primeira aulaaaaaaaaa, eeeeeebaaaaaaa!!!!! Vai ser dia 1º de dezembro, na Bikram Yoga North Beach, em São Francisco!!! Estou tão feliz, tão feliz!!!! E tããããooooo nervosa e ansiosa... Aqui a gente não pratica nenhuma aula inteira de diálogo, apenas as posições uma por uma, e só um dos lados (quando tem direita e esquerda) e apenas uma vez cada posição (todas são feitas duas vezes, na maioria delas a primeira vez é mais longa e a segunda é mais curta, ou seja, você precisa adaptar o diálogo para encurtar a posição). Juntar tudo e dar uma aula de 90 minutos vai ser um graaaaande desafio! Bom, estou organizando uma aula de mentirinha com algumas meninas do meu grupo que já tem aulas marcadas, para vermos o que sai e identificarmos onde temos de melhorar. Acho que vamos fazer isso no começo da semana que vem. Mas estou tão feliz que não vou ter de esperar eternamente para dar minha primeira aula, eba!!!!

Mudando de assunto, preciso contar o que aconteceu com a menina que discutiu com o Bikram. Aquela reunião na tenda na tarde de segunda-feira foi para falar sobre o caso, entre outras coisas. Todo mundo expressou sua decepção com a decisão do Bikram e o Dom disse que ele também não queria que isso acontecesse, mas falou que a decisão do boss é a decisão do boss e que a melhor coisa que a menina poderia fazer agora - se um dia ela ainda quiser virar professora - era deixar o curso e o hotel. Ele também disse que a melhor forma de nós ajudarmos era não se envolver com o caso, pois era algo que o Bikram e ela tinham de resolver.
O dia todo foi bem estranho, pois todos ficaram tristes com o caso, um mal-estar estava pairando no ar. Mas, depois de muito refletir e pensar sobre o comportamento dela durante todo o curso várias pessoas - inclusive eu - concluíram que talvez tudo isso esteja ocorrendo para o bem dela (isso se o Bikram realmente deixá-la concluir o curso em um próximo treinamento e isso se ela o quiser).

Todos os professores dizem que seu comportamento na sala de yoga reflete como você é na sua vida fora dali. Ela nunca fez uma aula inteira - sempre sentava no meio das posições, caía na risada, sentava na esteira para misturar as águas e os electrolytes dela e acabava tirando a concentração das pessoas em volta dela. Ela sempre foi muito crítica do Bikram e enquanto todos riam da própria desgraça de ter de assistir aos intermináveis filmes de Bollywood, ela protestava, ficava brava e criticava todo o processo.

Como o Dom disse para nós na tenda, muitas pessoas ficaram revoltadas com o que o Bikram falou, inclusive os professores, mas todos nós optamos por não ir lá confrontá-lo, simplesmente porque nosso lado racional falou mais alto do que o emocional. E ela deixou a emoção tomar conta e foi lá discutir com ele. O que eles discutiram ninguém sabe ao certo. Mas todos acreditam que, pelo que conhecemos da menina, a versão de tê-lo xingado é algo bem plausível. E talvez neste momento todos nós queremos acreditar que ela o tenha xingado, apenas porque é mais fácil aceitar a decisão do Bikram assim...

Enfim, como disse uma professora durante uma das aulas estes dias, isso aqui é como uma família. Muitos parentes têm opiniões diferentes da nossa, mas temos de aprender a conviver e respeitar um ao outro.

Depois de muita conversa com outras duas alunas, a menina resolveu deixar o hotel e se hospedar em outro hotel aqui perto na esperança de conversar com o Bikram para pedir desculpas. Eu sinceramente acho que ele não vai querer falar com ela agora. Mas espero que os dois resolvam tudo isso e que ela tenha a chance de concluir essa jornada que ela começou. Talvez a jornada dela tenha de apenas ser um pouco mais longa para ela refletir se é isso mesmo que ela quer...

Perto do fim

Estou a poucas horas da minha última posture clinic e não vejo a hora de me livrar da Spine Twisting Pose! Como já escrevi, as posture clinics ficaram bastante cansativas - e chatas -, portanto vai ser um alívio para todos nós quando este dia acabar! Alguns poucos sortudos já terminaram ontem e disseram que a sensação é beeeem boa...

Por outro lado, concluir as posture clinics é um sinal de que o fim do curso está próximo e que é hora de pensar no futuro fora da "bolha de yoga" em que estamos. Andei ficando bastante ansiosa nos poucos momentos livres que tenho para pensar nisso e no domingo, após um jantar com o pessoal do nosso grupo, fiquei bem nervosa. Muitas das minhas amigas do grupo já têm aula marcada para segunda-feira após o curso! Algumas até já estão na programação do estúdio para dar uma aula por dia durante a semana toda!

Eu, por outro lado, não sei nem em que país vou morar no mês que vem. Como todos os professores aqui nos recomendam a dar a primeira aula assim que pusermos os pés fora do hotel, comecei a procurar uma aula para dar em Los Angeles ou São Francisco, para onde vamos depois daqui. Quase não recebi resposta de ninguém e as duas que recebi foram negativas. Agora adotei uma tática mais agressiva, já que não sei mesmo o que o futuro me reserva. Comecei a enviar e-mails para todos os anúncios de emprego do site oficial da Bikram Yoga, seja nos EUA ou no Canadá. Estou até pensando em mandar para a Austrália...

Estou chateada de ainda não saber quando será minha primeira aula. Porém estou bem feliz por algumas das minhas amigas já começarem a ensinar e na segunda-feira depois do curso já tenho mais uma aula dupla programada! A primeira será a da Sophie, de manhã, aqui em San Diego. E a segunda é à noite, em Los Angeles, com a Laura. Tenho certeza que elas vão arrasar na primeira aula e quero estar lá para dar todo o apoio que elas merecem!