quarta-feira, 29 de setembro de 2010

Verão no outono

Post de segunda-feira, dia 27.09:



A segunda semana do curso começou quente. Muito quente. Do lado de fora da tenda, fazia 39ºC minutos antes da aula das 17h. Do lado de dentro, prefiro nem saber. Só sei que estava estupidamente, quase insuportavelmente quente. O resultado foi a aula mais difícil e sofrida que praticamente todos os alunos já tiveram desde que pisaram em uma sala de Bikram Yoga pela primeira vez.

Para quem não conhece a Bikram, a aula começa com uma série de posições feitas em pé e a segunda metade da aula é no chão. Bikram costuma dizer que a primeira metade da aula é o aquecimento para a verdadeira aula, que ocorre no chão, quando trabalhamos a coluna. 

A minha série de pé foi muito, muito difícil. A no chão, no entanto, foi uma completa lástima. Praticamente só fiz uma das duas repetições que fazemos de cada pose, e bem "nas coxas". Estava sentindo tanto calor que meu corpo não queria se mexer. Parecia que meu cérebro estava fritando e a água que eu tomava não aliviava em nada.

Na série do chão, dezenas de pessoas saíram da sala. Um dos alunos teve de ser levado ao hospital, por causa de desidratação. Pensei em sair da sala em alguns momentos. O calor era tão intenso que era praticamente impossível controlar a mente para permanecer ali dentro. Tentei respirar fundo (apesar da sensação de falta de oxigênio por causa do calor) e lembrar do que foi dito logo no primeiro dia do curso, de que você tem de tentar evitar entrar em "função desespero" (desperation mode), respirar e expirar devagar e explicar para sua mente que tudo vai ficar bem, que seu corpo aguenta ficar ali, mesmo que seja apenas deitado, se acostumando com o calor extremo. Porque é exatamente isso que você vai dizer a seus alunos, que o desafio da primeira aula é justamente não sair da sala.

No fim da aula, Bikram disse que foi a pior aula que ele já viu em seus cursos (mais de 30). Ele fica chateado quando não conseguimos fazer o que ele pede, porque ele se sente derrotado.

Saí daquela tenda com a cabeça parecendo um tomate, daqueles bem maduros, com formigamento nas mãos, que estavam brancas (acho que todo sangue subiu à cabeça) e zonza de cansaço e calor. Me bateu um certo medo de não aguentar as próximas oito semanas de curso.

Porém, logo em seguida, vários de nós mergulhamos na piscina e, após poucos segundos, como mágica, estávamos bem de novo, com a sensação de que, vamos, sim, conseguir terminar o curso!

Existe um imenso companheirismo entre todos os alunos, que às vezes até emociona. Ainda estamos recitando o diálogo da primeira pose para o Bikram e hoje um dos alunos subiu no palco e se esforçou tanto, tanto para recitar, mas não conseguia, esquecia as palavras, nós ajudávamos, mas aí ele tropeçava na frase seguinte, um sufoco. Quando ele terminou, todos bateram palmas bem forte e Bikram disse: "Está vendo? Isso é yoga. Quatrocentas pessoas torcendo juntas por você." O cara ficou super-emocionado e agradeceu a todos: "I love you all, thank you guys!"

Seria bom viver em um mundo assim, cheio de yogis, onde um respeita o outro, um apoia o outro, todos se ajudam e se gostam!

P.S.: Sei que minha mãe vai ler este post e ficar preocupada com a minha saúde, mas, Má, não se preocupe, sua filha está se cuidando! E todos aqui cuidam muito bem de nós também! O cara que foi ao hospital estava de volta duas horas depois e teve a sorte de poder ir dormir em vez de ouvir 3 horas de palestra do Bikram, assistir ao primeiro filme (de 94) do Mahabharata (uma produção barata horrorosa, muito ruim mesmo - em que dá para se ver que os bebês são bonecas -, mas, enfim, com uma filosofia bonita) e ter de ficar acordado até às 2h30 da manhã!

Um comentário: