Foram dias de agonia, de estudo, de repetição de diálogo em casa, no carro na estrada enquanto a Mila dormia (o Julien não aguenta mais eu murmurando "Arms over your head sideways", "Lock the knee", etc e tal), no chuveiro ("Inhale, head down, full lungs... Exhale, head up, slowly push your head back, way, way, waaaaay back), três aulas fictícias tendo a mesa de centro e as paredes de alunos (a primeira aula durou 108 minutos em vez de 90...)...
Já estava ficando altamente ansiosa lendo todos os posts dos meus colegas de treinamento no Facebook contando sobre suas primeira, segunda e terceira aulas, enquanto eu estava aqui, dando aula para o sofá. Mas acho que estes dez dias foram altamente bons para me acalmar, solidificar o diálogo na minha cabeça e estar tinindo para a primeira aula hoje cedo, que finalmente chegou!!!
Ontem fui ao estúdio onde gentilmente me cederam uma aula para ensinar hoje e pratiquei para sentir o clima dos alunos, do lugar e conversar com o Johnny, o diretor do estúdio, que é extremamente gente boa e participou das posture clinics durante nosso treinamento. O estúdio, Bikram's Yoga North Beach, em São Francisco, é o primeiro estúdio de Bikram Yoga aberto no mundo! Uau, que honra, não???
A aula de ontem já me tranquilizou bastante. Os alunos eram todos veteranos, a sala é pequena, ou seja, provavelmente eu teria uns 10 alunos no máximo (muito diferente dos 70 das aulas mais concorridas de Londres) no horário da manhã (às 9h), que é universalmente o horário mais tranquilo nos estúdios. A professora, inclusive, trocou umas "direitas" e "esquerdas" durante a aula e ninguém ligou, já que todo mundo sabia o que fazer e estava altamente concentrado em sua prática.
Acordei cedinho para sair a tempo e não me atrasar, já que ontem peguei um baita trânsito e cheguei lá às 9h para a aula. Fiquei repetindo a respiração inicial em voz alta dentro do carro e acabei pegando o caminho errado para chegar lá, mas tudo bem, estava com tempo. Cheguei mais de uma hora antes da aula, o dono do estúdio nem tinha chegado ainda!
Fiquei na recepção vendo o pessoal chegar quando entrou uma menina perguntando sobre o pacote promocional (que normalmente é para iniciantes) e tremi pensando que iria ter o azar de ter um iniciante na minha primeira aula! Mas o pacote promocional era para um albergue da região (uuufaaaaa) e a menina já tinha feito algumas aulas de Bikram (durante a aula percebi que não eram muitas e no final ela disse que praticou cinco, no máximo)!
Roupa nova, microfone de Madonna na cabeça, garrafa de água na mão e lá entrei eu no estúdio, todos os olhos voltados para mim no pódio. "Hello, my name is Andrea, I am your yoga teacher this morning." Vocês não têm noção quantas vezes tivemos de repetir antes de cada pose nas posture clinics: "My name is ... I AM your yoga teacher.", e agora estava falando para valer!
Foi bom ouvir minha voz no microfone, me remeteu aos meus bons tempos de rádio. Conduzi todos no pranayama, mas esqueci totalmente a ordem que estava acostumada a repetir. Durante a série de pé troquei algumas "direitas" e "esquerdas" (já que ficamos de frente para os alunos e a nossa direita é a esquerda deles e vice-versa), acho que certas vezes troquei algumas frases, utilizando-as em outras posições, mas não me deu nenhum mega-branco, segui em frente sem parar e, depois da série de pé, antes da savasana, o diretor, Johnny (que estava praticando para me dar o feedback da aula depois), olhou para mim com um largo sorriso no rosto e os dois polegares apontados para cima, mostrando que eu estava indo bem!
Tenho de dizer que fiquei com certa dó dos alunos. A sala ali é bem quente e estava todo mundo vermelhaço, suando loucamente, sofrendo bastante e eu tinha a impressão de que possivelmente a culpa era minha (bons professores sabem manter o ritmo certo da aula, sem matar ninguém, e em alguns momentos eu acho que estava acelerando muito). No fim da aula, após "colocar" todo mundo em savasana, agradeci a presença de todos e disse me sentir honrada de ter dado a aula e, na sequencia, mandei uma frase que não deveria ter dito: "I hope I didn't kill you too much". O Johnny disse para mim depois: "Não peça desculpas por matá-los, eles pagam para isso!" E quantas vezes eu ouvi isso durante o treinamento... A verdade é que as aulas mais sofridas costumam ser as mais gratificantes (depois do banho!). Um tiozinho chinês (que estava na aula de ontem também), disse que foi uma "morte lenta", mas cheia de ritmo, o que fez com que ele não parasse.
O feedback do Johnny foi altamente positivo! Ele disse que foi uma das melhores primeiras aulas que ele já praticou! Yeeeeeessssss!!!! Disse que eu tenho uma voz muito poderosa e que eu deveria mesmo abrir um estúdio no Brasil, porque ele tem certeza de que seria um sucesso! "You will be a great, great yoga teacher, no doubt about it!" Yeeeeeessss, fiquei tão feliz com o feedback dele! Ele também me deu umas dicas de onde melhorar, o que era bom eu estudar mais e me disse para ler todo o diálogo ainda hoje, com a aula fresca na memória, para ver o que eu esqueci, o que eu troquei etc.
Tenho de dizer que me senti bem menos nervosa do que esperava. Acho que o tempo de estudo depois do treinamento e antes da primeira aula foi fundamental para isso. Trabalhei meu espírito para esta aula e repeti inúmeras vezes que é "apenas yoga" e se der tudo errado nunca mais veria aquelas pessoas novamente! Aliás, quero muuuuito voltar a dar aula neste estúdio no futuro! E o Johnny falou que sou extremamente bem-vinda e ele adora ver o progresso dos novos professores meses após eles terem dado a primeira aula. Segundo ele, é uma mudança imensa!
Tenho muito de aprender, tenho de continuar estudando, continuar praticando, continuar dando aula até me sentir mais confortável e tudo isso me deixa extremamente animada, pois é uma longa jornada, mas altamente gratificante! Sinto ter uma segunda profissão e espero me sentir mais confortável em breve ao me denominar "professora de yoga"!
Com este post, concluo este blog. Obrigada a todos vocês que participaram desta jornada, que me apoiaram (enviando posts, tentando enviá-los sem sucesso ou simplesmente lendo e me enviando energia positiva para seguir em frente) e torceram por mim. Espero que, no futuro, todos vocês façam uma aula comigo!
Este espaço é dedicado para contar a amigos, família e amantes de yoga sobre minha experiência no treinamento de professores de Bikram Yoga (turma de outono/2010, em San Diego, CA). O curso dura 9 semanas, que prometem ser de muito suor - não apenas porque a sala onde a yoga é praticada tem uma temperatura de cerca de 40ºC, mas também porque envolve muito esforço mental, controle emocional, dedicação e muitas horas de prática.
quarta-feira, 1 de dezembro de 2010
domingo, 21 de novembro de 2010
Formatura
O dia amanheceu mais com cara de Londres do que de Califórnia. Céu cinzento, frio e muita, muita chuva. Aliás, muito mais chuva do que em Londres. Arrumei minhas coisas - é impressionante como você acumula tranqueira morando dois meses em algum lugar, mesmo em um quarto de hotel - esperei ansiosamente o Julien e a Mila chegarem (a Mila resolveu dormir até mais tarde justamente ontem!) me despedi da taiwanesa e saí do hotel rumo ao nosso apartamento.
Quando vi já eram 13h e nem tinha saído para comprar o colar que tinha visto há duas semanas para combinar com a minha roupa. E às 14h30 tínhamos de estar lá no centro de convenções do hotel para começar a cerimônia de formatura às 15h em ponto! Depois do corre-corre, estávamos saíndo de casa às 14h25, sem almoço. Paciência. Compramos um franguinho para a Mila no drive-thru e fomos para o hotel.
Porém, como diz o Bikram, "we are not business people, we are yogis, we only know how to lock the knee", e nada começou no horário. a Rajashree fez um discurso, depois veio a demonstração de um grupo de 30 alunos do curso de todas as posições da série (foi lindo!!!! Eles treinaram mais de uma semana, todos os dias ficavam mais de uma hora na sala quente após cada aula - duas vezes por dia - para aperfeiçoar a técnica e a sincronização. E valeu a pena!), depois troféus para alguns alunos e quando chegou a hora do discurso do Bikram já estava todo mundo verde de fome. E nada de comida, nem para os convidados. Só água.
A demonstração dos alunos (obviamente os mais flexíveis do curso!) |
O Bikram também lembrou que este é o início da nossa jornada e que estas nove semanas apenas nos prepararam para ser professores e que o verdadeiro desafio começa agora. Disse que somos pessoas diferentes e, pela primeira vez, nos chamou de yogis! Disse que nos tornamos "fireproof, bulletproof, emotionproof, sexproof, painproof", porque somos yogis e estamos acima do chão. Sinceramente, acho que ainda não cheguei neste nível, mas aprendi o caminho para chegar lá. "And I declare you, Bikram Yoga graduates!", disse ele no final. Quase chorei.
Como tudo se atrasou e todos estavam morrendo de fome, resolveram apressar o processo de entrega dos diplomas. Cada um ficava pouco mais de dez segundos no palco, para receber o diploma e tirar a foto oficial ao lado do Bikram.
Making-off da minha foto oficial (que ainda não tenho) |
Nós ficamos lá, comemos, tomamos muita água (e o Julien Coca-cola), a Mila arrasou na pista de dança (até o Bikram dançou com ela!) e finalmente me senti realizada. Concluí um sonho de três anos e estou feliz de ter dado alguns importantes passos no que considero ser a direção certa do meu destino. E espero que nos próximos meses eu siga em frente neste caminho e ajude muitas pessoas a encontrar a direção certa de seus próprios caminhos.
A representação brasileira do curso: Cassiano, Jeane e eu! (Tinha mais uma brasileira, a Paula) |
E como o ciclo só termina com a primeira aula, aguardem o último post deste blog, no dia 1º de dezembro!
O melhor prêmio do mundo no fim do curso: diploma e meus dois amores de volta! |
Karla (do meu grupo) e eu com a princesa da festa.
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sábado, 20 de novembro de 2010
97 aulas depois...
Começo da última aula. |
Acabooooouuuuu!!!!! Ontem à noite foi a nossa última aula, a 97ª, para quem não fez nenhuma aula extra durante os fins de semana (meu caso)! Missão cumprida!
Estou bem orgulhosa, bem feliz, bem satisfeita com o feito, mas pensei que estaria pulando de emoção e euforia. Mas não estou. Estou sentindo exatamente o que costumava sentir após as excursões do colégio. Após quatro dias intensos de diversão e união com todos os meus colegas de classe, sentia um imenso vazio na barriga, um furo, ao voltar para a casa. Me sentia extremamente sozinha. E é como estou me sentindo agora.
Ontem à noite acabamos não tendo palestra com o Bikram, então fomos liberados por volta das 22h, com a opção de voltar para o último filme bollywoodiano às 23h30, com a presença do Bikram. Tinha me prometido que na última noite iria assistir ao filme, como despedida. Antes, passei no quarto da Sophie e ela e a colega de quarto, Susan, abriram um vinho para comemorarmos o fim do curso. Por volta das 0h30 descemos para a tenda e o Bikram ainda não tinha chegado para o filme. Cerca de 50 pessoas pacientes esperavam desde às 23h30... Bom, depois de 15 minutos ele chegou e começamos a assistir ao filme. Acabei deitando em 4 cadeiras, com cobertor, e por volta das 2h da matina adormeci. Quando acordei, às 2h30, só havia no máximo 8 pessoas na tenda, cinco delas dormindo, além do Bikram, é claro. Me senti tão triste, com aquela sensação de fim de festa, e senti falta de todas aquelas pessoas enchendo a tenda de barulho, vida e energia. Levantei e fui para o quarto. E adormeci triste.
Fim da última aula. |
Estou feliz de voltar ao dia-a-dia com meus dois amores, afinal morri de saudades deles o curso inteiro! Mas estou muito, muito triste de me separar de tantas pessoas especiais que conheci aqui, de sair deste ambiente seguro que, apesar de muitas vezes difícil, faz nos sentir amados. A ligação que todos nós criamos durante estas nove semanas é algo impressionantemente intenso.
Última noite na tenda. |
Várias pessoas aqui estão apreensivas de voltar ao "mundo normal", porque, além da união com o grupo, todos nós estamos nos sentindo diferentes. Provavelmente, algumas coisas nas nossas vidas vão mudar daqui para a frente e eu só espero que seja para a melhor.
Enfim, a vida continua e não podemos parar (nem voltar) o tempo, certo? O importante é seguir em frente, com determinação, coração e mente abertos, pensamento positivo, humildade e honestidade e sinceridade. E como diz o Bikram, só se preocupe em dar, dar, dar, sem nunca esperar nada em troca. É assim que você recebe tudo o que você precisa e muito mais.
Este ainda não é o último post, mesmo porque não quero terminar meu blog com este desânimo. Hoje é nossa graduação, seguido de jantar e festa na tenda! Amanhã tem mais e espero encontrar a felicidade que eu esperava sentir no fim do curso!
Estes são os professores maravilhosos que deram seu sangue e suor - de graça - durante estas nove semanas para fazer todo o processo possível. |
domingo, 14 de novembro de 2010
Junk food
Sei que já andei falando sobre a alimentação durante o curso, mas acho que o assunto merece um post exclusivo. Antes de vir para cá, pensei que estes seriam os dois meses mais saudáveis da minha vida. Praticar yoga duas vezes por dia, não beber álcool (proibição imposta pelo Bikram) e comer comida saudável, ou seja, detox total! A prática de yoga aconteceu e estou seguindo a proibição de álcool (apesar de muuuuitas pessoas terem ignorado a "lei"), mas comida saudável não anda muito no meu cardápio, infelizmente...
Demos um baita azar com este hotel. É a primeira vez que o treinamento está sendo realizado aqui e possivelmente a última (segundo as palavras do próprio Bikram esta semana). Em todos os outros treinamentos, os alunos receberam um voucher de US$ 500 para comer e os respectivos hotéis tinham vários buffets ou então existiam vários restaurantes bons e baratos nas proximidades (uma das minhas professoras em Londres, que teve a sorte de fazer o curso no Hawaí, disse que comia sushi barato todo dia...). Aqui estamos isolados em uma área em que só existem hotéis, na beira da estrada, onde um shopping com uma praça de alimentação limitadíssima é a única opção além da comida caríssima aqui do hotel (isso para as pessoas que não têm carro, como eu). O Bikram disse esta semana que uma das condições básicas em treinamentos é tratar bem seus alunos, ou seja, oferecer comida boa. Segundo ele, a direção do hotel é tão inflexível que proibiu qualquer tentativa deles de trazer comida de fora para cá e que no dia em que houve a pizza party na tenda os advogados dele tiveram de entrar em ação para entrarem com as pizzas na área do hotel!
Dito isto, todos estão se virando como podem para não gastar uma fortuna comendo no hotel e não perder meia hora para ir e vir do shopping durante os curtos intervalos que temos para tomar banho, comer e estudar. Nos dias de sorte, o Julien traz meu jantar (na quinta-feira comi um arroz e feijão campeão, com tilápia - diferente da nossa, delícia absoluta!!!) e meu café-da-manhã (pedaços de melancia, uvas e sanduíche de ovo frito com queijo). Porém, muitas vezes tenho de me contentar com a comida de microondas... Esta semana provei o Macaroni and Cheese do Trader Joe's (um supermercado natureba que existe nos EUA, onde todos os atendentes são extremamente gente boa). Muitas vezes esquento um saquinho de arroz Uncle Ben's e um pacote de lentilhas indianas. Também andei comendo as trash Cup Noodles para matar minha fome entre uma palestra e uma aula ou mesmo depois de uma noite longa na tenda, antes de dormir. De manhã, no meu café-da-manhã/almoço às vezes é sopa de lata, pão com queijo, uma garrafinha de frapuccino do Starbucks (sensacional, não sei por que não vendem isso na Inglaterra!), pêra, iogurte... Nada muito empolgante. Às vezes acho que o cardápio explica minha falta de fome. Não sinto mais prazer em comer, o que é algo bem triste - e quem me conhece sabe que isso é grave!
Como se não bastasse, nunca comi tanto junk food em tão poucas semanas! Já devo ter comido uns cinco McFish com batata-frita (a minha colega chinesa costuma ir ao McDonald's e é a única comida que eu posso pedir para ela trazer, porque dá até medo dos cadáveres que ela traz quando vai aos restaurantes chineses - e não é porque não como carne, não. O negócio é feio, fedido e ela come como se fosse um neandertal, deixando uns nacos de carne babada, cheia de gordura, no prato. Eca!!!). E já devo ter tomado umas seis Coca-Colas! Ou pior: Pepsis, porque o hotel só vende Pepsi! Acho que foi na terceira semana que senti um desejo incontrolável de tomar uma Coca estupidamente gelada! Acho que meu corpo estava pedindo açúcar, mas não costumo tomar nenhum refrigerante que não seja água tônica e guaraná (que tomo em pequenas quantidades, raramente)!
A minha sorte é que do jeito que estou exercitando meu corpo aqui, não deu tempo para o junk food virar quilo extra no meu corpo. Acho até que talvez tenha emagrecido um pouco. Aliás, falaram que é normal até engordar aqui, muitas vezes inchar de tanto líquido que se toma, mas garantiram que tudo volta ao normal quando saímos daqui.
Não sei, estou sentindo meu corpo diferente, mas as diferenças são muito mais internas do que externas. Estou me sentindo tão forte, tão cheia de energia! Acho que as aulas de anatomia ajudaram, mas a prática de yoga contínua também fez eu acordar e sentir vários músculos nos quais nunca pensei!
Enfim, estou um pouco decepcionada com a minha dieta, mas sei que isso é o que menos importa neste curso. O importante é que estou produzindo energia suficiente para manter meu corpo praticando yoga, assistindo a palestras, memorizar texto e dormindo menos horas do que o normal. Só torço para minha vontade de comer coisa gostosa voltar quando sair daqui e espero deixar de desejar Coca-cola. Se bem que acho que isso vai ser fácil quando eu puder voltar a tomar uma cervejinha gelada!!!
Demos um baita azar com este hotel. É a primeira vez que o treinamento está sendo realizado aqui e possivelmente a última (segundo as palavras do próprio Bikram esta semana). Em todos os outros treinamentos, os alunos receberam um voucher de US$ 500 para comer e os respectivos hotéis tinham vários buffets ou então existiam vários restaurantes bons e baratos nas proximidades (uma das minhas professoras em Londres, que teve a sorte de fazer o curso no Hawaí, disse que comia sushi barato todo dia...). Aqui estamos isolados em uma área em que só existem hotéis, na beira da estrada, onde um shopping com uma praça de alimentação limitadíssima é a única opção além da comida caríssima aqui do hotel (isso para as pessoas que não têm carro, como eu). O Bikram disse esta semana que uma das condições básicas em treinamentos é tratar bem seus alunos, ou seja, oferecer comida boa. Segundo ele, a direção do hotel é tão inflexível que proibiu qualquer tentativa deles de trazer comida de fora para cá e que no dia em que houve a pizza party na tenda os advogados dele tiveram de entrar em ação para entrarem com as pizzas na área do hotel!
Dito isto, todos estão se virando como podem para não gastar uma fortuna comendo no hotel e não perder meia hora para ir e vir do shopping durante os curtos intervalos que temos para tomar banho, comer e estudar. Nos dias de sorte, o Julien traz meu jantar (na quinta-feira comi um arroz e feijão campeão, com tilápia - diferente da nossa, delícia absoluta!!!) e meu café-da-manhã (pedaços de melancia, uvas e sanduíche de ovo frito com queijo). Porém, muitas vezes tenho de me contentar com a comida de microondas... Esta semana provei o Macaroni and Cheese do Trader Joe's (um supermercado natureba que existe nos EUA, onde todos os atendentes são extremamente gente boa). Muitas vezes esquento um saquinho de arroz Uncle Ben's e um pacote de lentilhas indianas. Também andei comendo as trash Cup Noodles para matar minha fome entre uma palestra e uma aula ou mesmo depois de uma noite longa na tenda, antes de dormir. De manhã, no meu café-da-manhã/almoço às vezes é sopa de lata, pão com queijo, uma garrafinha de frapuccino do Starbucks (sensacional, não sei por que não vendem isso na Inglaterra!), pêra, iogurte... Nada muito empolgante. Às vezes acho que o cardápio explica minha falta de fome. Não sinto mais prazer em comer, o que é algo bem triste - e quem me conhece sabe que isso é grave!
Como se não bastasse, nunca comi tanto junk food em tão poucas semanas! Já devo ter comido uns cinco McFish com batata-frita (a minha colega chinesa costuma ir ao McDonald's e é a única comida que eu posso pedir para ela trazer, porque dá até medo dos cadáveres que ela traz quando vai aos restaurantes chineses - e não é porque não como carne, não. O negócio é feio, fedido e ela come como se fosse um neandertal, deixando uns nacos de carne babada, cheia de gordura, no prato. Eca!!!). E já devo ter tomado umas seis Coca-Colas! Ou pior: Pepsis, porque o hotel só vende Pepsi! Acho que foi na terceira semana que senti um desejo incontrolável de tomar uma Coca estupidamente gelada! Acho que meu corpo estava pedindo açúcar, mas não costumo tomar nenhum refrigerante que não seja água tônica e guaraná (que tomo em pequenas quantidades, raramente)!
A minha sorte é que do jeito que estou exercitando meu corpo aqui, não deu tempo para o junk food virar quilo extra no meu corpo. Acho até que talvez tenha emagrecido um pouco. Aliás, falaram que é normal até engordar aqui, muitas vezes inchar de tanto líquido que se toma, mas garantiram que tudo volta ao normal quando saímos daqui.
Não sei, estou sentindo meu corpo diferente, mas as diferenças são muito mais internas do que externas. Estou me sentindo tão forte, tão cheia de energia! Acho que as aulas de anatomia ajudaram, mas a prática de yoga contínua também fez eu acordar e sentir vários músculos nos quais nunca pensei!
Enfim, estou um pouco decepcionada com a minha dieta, mas sei que isso é o que menos importa neste curso. O importante é que estou produzindo energia suficiente para manter meu corpo praticando yoga, assistindo a palestras, memorizar texto e dormindo menos horas do que o normal. Só torço para minha vontade de comer coisa gostosa voltar quando sair daqui e espero deixar de desejar Coca-cola. Se bem que acho que isso vai ser fácil quando eu puder voltar a tomar uma cervejinha gelada!!!
sábado, 13 de novembro de 2010
Fim da semana 8!!!
A pessoa quase não ficou tímida (cara de tomate)... Rajashree e Bikram. Ok, foi um momento tiete, mas se eu não fizesse isso, me arrependeria depois! |
Esta semana foi mais uma daquelas em que minhas emoções foram para cima e para baixo. As posture clinics terminaram, o que me deixou bastante feliz. E bastante triste.
A última foi na quinta-feira, apenas porque o Bikram queria estar aqui quando a gente terminasse, pois poderíamos ter terminado na terça ou no máximo na quarta. Ou seja, aquela agonia de se livrar logo da última posição foi estendida e por isso tinha decidido ser uma das primeiras a subir para falar. Não deu certo, pois justamente na última posture clinic resolveram chamar o pessoal em ordem alfabética, o que estendeu minha agonia um pouco mais...
Mas foi uma posture clinic diferente. Apesar de terem pedido para não aplaudirmos ninguém, desrespeitamos as regras e aplaudimos um por um pelo feito de finalmente ter encerrado as 24 posições (nós não falamos as respirações do começo e do final, que eu ainda tenho de decorar, aliás)! Na última pessoa de cada grupo todos - cerca de 50 pessoas - demonstraram a posição. E, apesar de eu ter ficado nervosa antes de falar, como sempre acontece, quando chegou a minha vez estava relaxada, saboreando cada palavra que saía da minha boca. E acabou!!!! Todos se abraçaram, pularam, gritaram e muitos - lógico que eu estava no meio - derramaram algumas lágrimas.
Chorei de alívio, de cansaço, mas chorei principalmente por saber que nunca mais vamos estar juntos em um momento tão especial da nossa vida. Não vamos mais rir e chorar juntos como fizemos todos os dias durante estas últimas semanas. E vou sentir muita, muita falta de todas estas almas especiais que conheci aqui.
Aliás, duas pessoas do meu grupo, a Nadine e o Phillip, foram tão fofos que entregaram um troféu para todo mundo no final da posture clinic. Recebi o troféu "Machine Gun (best dialogue delivery)"!!!
É bom saber que daqui a pouco volto para o mundo normal, volto para perto do Julien e da Mila em tempo integral, e que vou virar uma professora desta yoga que tanto amo! Mas dá a maior tristeza e dor-de-barriga deixar estas pessoas maravilhosas para trás, embora eu saiba que onde quer que eu vá, se alguma delas morar ali, vou ter um lugar para ficar. E chega de escrever, porque já chorei no final da aula de hoje cedo e já começo a sentir algumas lágrimas querendo se esparramar por aí!
Eu durante a última posture clinic, falando a Spine Twisting Pose. |
A galera comemorando o fim da posture clinic! |
quarta-feira, 10 de novembro de 2010
Minha primeira aula
Conseguiiiiiiiiiii a minha primeira aulaaaaaaaaa, eeeeeebaaaaaaa!!!!! Vai ser dia 1º de dezembro, na Bikram Yoga North Beach, em São Francisco!!! Estou tão feliz, tão feliz!!!! E tããããooooo nervosa e ansiosa... Aqui a gente não pratica nenhuma aula inteira de diálogo, apenas as posições uma por uma, e só um dos lados (quando tem direita e esquerda) e apenas uma vez cada posição (todas são feitas duas vezes, na maioria delas a primeira vez é mais longa e a segunda é mais curta, ou seja, você precisa adaptar o diálogo para encurtar a posição). Juntar tudo e dar uma aula de 90 minutos vai ser um graaaaande desafio! Bom, estou organizando uma aula de mentirinha com algumas meninas do meu grupo que já tem aulas marcadas, para vermos o que sai e identificarmos onde temos de melhorar. Acho que vamos fazer isso no começo da semana que vem. Mas estou tão feliz que não vou ter de esperar eternamente para dar minha primeira aula, eba!!!!
Mudando de assunto, preciso contar o que aconteceu com a menina que discutiu com o Bikram. Aquela reunião na tenda na tarde de segunda-feira foi para falar sobre o caso, entre outras coisas. Todo mundo expressou sua decepção com a decisão do Bikram e o Dom disse que ele também não queria que isso acontecesse, mas falou que a decisão do boss é a decisão do boss e que a melhor coisa que a menina poderia fazer agora - se um dia ela ainda quiser virar professora - era deixar o curso e o hotel. Ele também disse que a melhor forma de nós ajudarmos era não se envolver com o caso, pois era algo que o Bikram e ela tinham de resolver.
O dia todo foi bem estranho, pois todos ficaram tristes com o caso, um mal-estar estava pairando no ar. Mas, depois de muito refletir e pensar sobre o comportamento dela durante todo o curso várias pessoas - inclusive eu - concluíram que talvez tudo isso esteja ocorrendo para o bem dela (isso se o Bikram realmente deixá-la concluir o curso em um próximo treinamento e isso se ela o quiser).
Todos os professores dizem que seu comportamento na sala de yoga reflete como você é na sua vida fora dali. Ela nunca fez uma aula inteira - sempre sentava no meio das posições, caía na risada, sentava na esteira para misturar as águas e os electrolytes dela e acabava tirando a concentração das pessoas em volta dela. Ela sempre foi muito crítica do Bikram e enquanto todos riam da própria desgraça de ter de assistir aos intermináveis filmes de Bollywood, ela protestava, ficava brava e criticava todo o processo.
Como o Dom disse para nós na tenda, muitas pessoas ficaram revoltadas com o que o Bikram falou, inclusive os professores, mas todos nós optamos por não ir lá confrontá-lo, simplesmente porque nosso lado racional falou mais alto do que o emocional. E ela deixou a emoção tomar conta e foi lá discutir com ele. O que eles discutiram ninguém sabe ao certo. Mas todos acreditam que, pelo que conhecemos da menina, a versão de tê-lo xingado é algo bem plausível. E talvez neste momento todos nós queremos acreditar que ela o tenha xingado, apenas porque é mais fácil aceitar a decisão do Bikram assim...
Enfim, como disse uma professora durante uma das aulas estes dias, isso aqui é como uma família. Muitos parentes têm opiniões diferentes da nossa, mas temos de aprender a conviver e respeitar um ao outro.
Depois de muita conversa com outras duas alunas, a menina resolveu deixar o hotel e se hospedar em outro hotel aqui perto na esperança de conversar com o Bikram para pedir desculpas. Eu sinceramente acho que ele não vai querer falar com ela agora. Mas espero que os dois resolvam tudo isso e que ela tenha a chance de concluir essa jornada que ela começou. Talvez a jornada dela tenha de apenas ser um pouco mais longa para ela refletir se é isso mesmo que ela quer...
Mudando de assunto, preciso contar o que aconteceu com a menina que discutiu com o Bikram. Aquela reunião na tenda na tarde de segunda-feira foi para falar sobre o caso, entre outras coisas. Todo mundo expressou sua decepção com a decisão do Bikram e o Dom disse que ele também não queria que isso acontecesse, mas falou que a decisão do boss é a decisão do boss e que a melhor coisa que a menina poderia fazer agora - se um dia ela ainda quiser virar professora - era deixar o curso e o hotel. Ele também disse que a melhor forma de nós ajudarmos era não se envolver com o caso, pois era algo que o Bikram e ela tinham de resolver.
O dia todo foi bem estranho, pois todos ficaram tristes com o caso, um mal-estar estava pairando no ar. Mas, depois de muito refletir e pensar sobre o comportamento dela durante todo o curso várias pessoas - inclusive eu - concluíram que talvez tudo isso esteja ocorrendo para o bem dela (isso se o Bikram realmente deixá-la concluir o curso em um próximo treinamento e isso se ela o quiser).
Todos os professores dizem que seu comportamento na sala de yoga reflete como você é na sua vida fora dali. Ela nunca fez uma aula inteira - sempre sentava no meio das posições, caía na risada, sentava na esteira para misturar as águas e os electrolytes dela e acabava tirando a concentração das pessoas em volta dela. Ela sempre foi muito crítica do Bikram e enquanto todos riam da própria desgraça de ter de assistir aos intermináveis filmes de Bollywood, ela protestava, ficava brava e criticava todo o processo.
Como o Dom disse para nós na tenda, muitas pessoas ficaram revoltadas com o que o Bikram falou, inclusive os professores, mas todos nós optamos por não ir lá confrontá-lo, simplesmente porque nosso lado racional falou mais alto do que o emocional. E ela deixou a emoção tomar conta e foi lá discutir com ele. O que eles discutiram ninguém sabe ao certo. Mas todos acreditam que, pelo que conhecemos da menina, a versão de tê-lo xingado é algo bem plausível. E talvez neste momento todos nós queremos acreditar que ela o tenha xingado, apenas porque é mais fácil aceitar a decisão do Bikram assim...
Enfim, como disse uma professora durante uma das aulas estes dias, isso aqui é como uma família. Muitos parentes têm opiniões diferentes da nossa, mas temos de aprender a conviver e respeitar um ao outro.
Depois de muita conversa com outras duas alunas, a menina resolveu deixar o hotel e se hospedar em outro hotel aqui perto na esperança de conversar com o Bikram para pedir desculpas. Eu sinceramente acho que ele não vai querer falar com ela agora. Mas espero que os dois resolvam tudo isso e que ela tenha a chance de concluir essa jornada que ela começou. Talvez a jornada dela tenha de apenas ser um pouco mais longa para ela refletir se é isso mesmo que ela quer...
Perto do fim
Estou a poucas horas da minha última posture clinic e não vejo a hora de me livrar da Spine Twisting Pose! Como já escrevi, as posture clinics ficaram bastante cansativas - e chatas -, portanto vai ser um alívio para todos nós quando este dia acabar! Alguns poucos sortudos já terminaram ontem e disseram que a sensação é beeeem boa...
Por outro lado, concluir as posture clinics é um sinal de que o fim do curso está próximo e que é hora de pensar no futuro fora da "bolha de yoga" em que estamos. Andei ficando bastante ansiosa nos poucos momentos livres que tenho para pensar nisso e no domingo, após um jantar com o pessoal do nosso grupo, fiquei bem nervosa. Muitas das minhas amigas do grupo já têm aula marcada para segunda-feira após o curso! Algumas até já estão na programação do estúdio para dar uma aula por dia durante a semana toda!
Eu, por outro lado, não sei nem em que país vou morar no mês que vem. Como todos os professores aqui nos recomendam a dar a primeira aula assim que pusermos os pés fora do hotel, comecei a procurar uma aula para dar em Los Angeles ou São Francisco, para onde vamos depois daqui. Quase não recebi resposta de ninguém e as duas que recebi foram negativas. Agora adotei uma tática mais agressiva, já que não sei mesmo o que o futuro me reserva. Comecei a enviar e-mails para todos os anúncios de emprego do site oficial da Bikram Yoga, seja nos EUA ou no Canadá. Estou até pensando em mandar para a Austrália...
Estou chateada de ainda não saber quando será minha primeira aula. Porém estou bem feliz por algumas das minhas amigas já começarem a ensinar e na segunda-feira depois do curso já tenho mais uma aula dupla programada! A primeira será a da Sophie, de manhã, aqui em San Diego. E a segunda é à noite, em Los Angeles, com a Laura. Tenho certeza que elas vão arrasar na primeira aula e quero estar lá para dar todo o apoio que elas merecem!
Por outro lado, concluir as posture clinics é um sinal de que o fim do curso está próximo e que é hora de pensar no futuro fora da "bolha de yoga" em que estamos. Andei ficando bastante ansiosa nos poucos momentos livres que tenho para pensar nisso e no domingo, após um jantar com o pessoal do nosso grupo, fiquei bem nervosa. Muitas das minhas amigas do grupo já têm aula marcada para segunda-feira após o curso! Algumas até já estão na programação do estúdio para dar uma aula por dia durante a semana toda!
Eu, por outro lado, não sei nem em que país vou morar no mês que vem. Como todos os professores aqui nos recomendam a dar a primeira aula assim que pusermos os pés fora do hotel, comecei a procurar uma aula para dar em Los Angeles ou São Francisco, para onde vamos depois daqui. Quase não recebi resposta de ninguém e as duas que recebi foram negativas. Agora adotei uma tática mais agressiva, já que não sei mesmo o que o futuro me reserva. Comecei a enviar e-mails para todos os anúncios de emprego do site oficial da Bikram Yoga, seja nos EUA ou no Canadá. Estou até pensando em mandar para a Austrália...
Estou chateada de ainda não saber quando será minha primeira aula. Porém estou bem feliz por algumas das minhas amigas já começarem a ensinar e na segunda-feira depois do curso já tenho mais uma aula dupla programada! A primeira será a da Sophie, de manhã, aqui em San Diego. E a segunda é à noite, em Los Angeles, com a Laura. Tenho certeza que elas vão arrasar na primeira aula e quero estar lá para dar todo o apoio que elas merecem!
segunda-feira, 8 de novembro de 2010
Triste preconceito
Há algumas semanas, já vinha pensando que a criação do Bikram era bem mais brilhante do que seu criador. E na sexta-feira tive certeza disso. Hoje tenho mais certeza ainda!
Durante a aula da sexta-feira, o Bikram começou com seu blá-blá-blá costumeiro. Às vezes ele conta piadas machistas, às vezes conta episódios da vida dele e às vezes expõe suas opiniões, que, muitas vezes contradizem totalmente a da maioria dos alunos. Este foi o caso na sexta-feira. Ele começou falando da tarefa das mulheres no mundo, da dos homens e até aí estava tudo bem. Aí ele disse que as mulheres têm de parar de "bitch, bitch, bitch" (ou seja, encher o saco dos homens), porque os homens acabam substituindo as mulheres por outros homens e morrem de AIDS. Ai.
Disse que o você vem ao mundo com um karma e tem de executar o que foi destinado a fazer e não tentar se mudar. Ai.
Saí de lá decepcionada com ele, mas como ele já disse outras coisas antes das quais discordei e como sei que ele infelizmente não é o único preconceituoso a pensar assim, segui em frente. Afinal, vim aqui praticar yoga e virar uma professora. Disse ao Julien que definitivamente não consigo ver o Bikram como o meu guru espiritual e sim apenas meu guru de hatha yoga e acho uma pena ele pensar assim e falar isso para todo mundo ouvir sem ser punido por isso. O melhor professor que veio aqui dar aula para nós é o cara mais gay que já vi, como ele pode falar uma coisa dessas???
Mas uma outra aluna ficou muito mais revoltada do que todos nós. Ou melhor, resolveu expressar a revolta dela de forma mais contundente. Fiquei sabendo hoje que ela começou a gritar do canto da sala em direção ao pódio quando o Bikram estava falando essas barbaridades, depois enrolou a esteira dela e saiu. Um dos funcionários tentou acalmá-la, mas não teve jeito. Quando o Bikram saiu, ela foi falar com ele e o xingou de "asshole". Pelo menos esta é a fofoca que rola. Já a colega de quarto dela diz que ela apenas falou para ele que ele quebrou seu coração com o que falou durante a aula.
Após todo o bafafá, resolveram expulsá-la do curso. E do hotel. Ameaçaram chamar a polícia para tirá-la daqui se ela não sair por conta própria. E pelo que conheço dela, ela não vai sair. Eu também não sairia! E já disse que vai espalhar a história na imprensa.
Além disso, ela resolveu organizar um protesto - está pedindo para ninguém aparecer na aula do Bikram esta tarde. No começo, concordei prontamente e disse que não iria. Mas é aquele velho problema de greve. Se um furar, todos os outros vão sair prejudicados. Quero apoiar a menina (apesar de também achar que ela não tinha o direito de desrespeitá-lo, por mais que a opinião dele seja absurda), mas tenho medo de não me formar e jogar toda grana e todo o esforço gastos para este curso pelo ralo.
Nos chamaram para uma reunião na tenda antes da posture clinic. Acho que o assunto será este. Vamos ver o que acontece. Conto para vocês à noite!
Durante a aula da sexta-feira, o Bikram começou com seu blá-blá-blá costumeiro. Às vezes ele conta piadas machistas, às vezes conta episódios da vida dele e às vezes expõe suas opiniões, que, muitas vezes contradizem totalmente a da maioria dos alunos. Este foi o caso na sexta-feira. Ele começou falando da tarefa das mulheres no mundo, da dos homens e até aí estava tudo bem. Aí ele disse que as mulheres têm de parar de "bitch, bitch, bitch" (ou seja, encher o saco dos homens), porque os homens acabam substituindo as mulheres por outros homens e morrem de AIDS. Ai.
Disse que o você vem ao mundo com um karma e tem de executar o que foi destinado a fazer e não tentar se mudar. Ai.
Saí de lá decepcionada com ele, mas como ele já disse outras coisas antes das quais discordei e como sei que ele infelizmente não é o único preconceituoso a pensar assim, segui em frente. Afinal, vim aqui praticar yoga e virar uma professora. Disse ao Julien que definitivamente não consigo ver o Bikram como o meu guru espiritual e sim apenas meu guru de hatha yoga e acho uma pena ele pensar assim e falar isso para todo mundo ouvir sem ser punido por isso. O melhor professor que veio aqui dar aula para nós é o cara mais gay que já vi, como ele pode falar uma coisa dessas???
Mas uma outra aluna ficou muito mais revoltada do que todos nós. Ou melhor, resolveu expressar a revolta dela de forma mais contundente. Fiquei sabendo hoje que ela começou a gritar do canto da sala em direção ao pódio quando o Bikram estava falando essas barbaridades, depois enrolou a esteira dela e saiu. Um dos funcionários tentou acalmá-la, mas não teve jeito. Quando o Bikram saiu, ela foi falar com ele e o xingou de "asshole". Pelo menos esta é a fofoca que rola. Já a colega de quarto dela diz que ela apenas falou para ele que ele quebrou seu coração com o que falou durante a aula.
Após todo o bafafá, resolveram expulsá-la do curso. E do hotel. Ameaçaram chamar a polícia para tirá-la daqui se ela não sair por conta própria. E pelo que conheço dela, ela não vai sair. Eu também não sairia! E já disse que vai espalhar a história na imprensa.
Além disso, ela resolveu organizar um protesto - está pedindo para ninguém aparecer na aula do Bikram esta tarde. No começo, concordei prontamente e disse que não iria. Mas é aquele velho problema de greve. Se um furar, todos os outros vão sair prejudicados. Quero apoiar a menina (apesar de também achar que ela não tinha o direito de desrespeitá-lo, por mais que a opinião dele seja absurda), mas tenho medo de não me formar e jogar toda grana e todo o esforço gastos para este curso pelo ralo.
Nos chamaram para uma reunião na tenda antes da posture clinic. Acho que o assunto será este. Vamos ver o que acontece. Conto para vocês à noite!
sábado, 6 de novembro de 2010
Fim da semana 7!!!
Para tornar as sessões menos entediantes (já que são 3h30 à tarde e 2 horas à noite que ficamos sentados no chão, ouvindo um por um recitar o mesmo diálogo), alguns professores - os bons - pediam para nós ficarmos alertas aplaudindo quem está lá na frente, dando apoio, e todo mundo começou a ficar bem bom nisso. O nosso grupo inventou vários "gritos de guerra" sempre que algum de nós levantava para recitar o diálogo (frases que para quem não está aqui não fazem o mínimo sentido, mas vou escrever assim mesmo. Vai que alguém faz este curso no futuro e lê este blog... "Fun, fun, fun, 15 (é o número do nosso grupo)!!!" foi o primeiro. Depois, as demais versões, que fazem os outros grupos cair na risada são: "Trust, trust, trust, the process!" e "Stretch, stretch, stretch, the fascia!"). Estávamos tentando nos manter entretidos apesar do cansaço e do tédio da rotina repetitiva.
Mas, como sempre aparece um estraga-prazer, o Jeff, o marido da Lynn, que é a especialista das posture clinics, tornou tudo mais chato. Entrou na sala e após enumerar as regras de sempre (não mascar chiclete, não comer, não deitar, não conversar, desligar telefone, etc, etc), disse: "Nada de palmas. Nada de gritos de guerra. Não quero nenhum tipo de aplauso para a pessoa que está aqui na frente. Vamos tentar tornar o ambiente da posture clinic o mais parecido possível com uma aula normal, em que ninguém terá palmas nem apoio de ninguém."
E logo as regras do Jeff viraram a regra geral. Ficamos tão revoltados de tirarem nossa pequena alegria que quando o Bikram entrou na tenda para uma palestra à noite, ninguém aplaudiu - o que foi bem estranho, já que ele sempre é ovacionado quando entra na tenda. As palmas são nossa forma de demonstrar coletivamente que concordamos com algo ou gostamos de algo e nos sentimos todos um pouco atados com a nova regra. Mas, como me prometi que daqui para a frente não vou me deixar afetar com coisas sem importância, chega de falar sobre isso!
Estou sentindo falta de informação. Estou sentindo falta até dos filmes. Acho que às vezes meu espírito de jornalista vem à tona e implora por informação, novidade, meus dedos querem escrever, meus olhos querem ler, quero me alimentar com o desconhecido. E tem tanta coisa sobre yoga que ainda quero saber!
Mas acho que semana que vem tudo vai ficar melhor! Vamos concluir as posture clinics e aí o Bikram vai demonstrar cada uma das posições, explicar, discutir o diálogo, a Rajashree vai falar sobre os efeitos terapêuticos de cada posição, vai falar sobre a série para grávidas (que eu pratiquei durante minha gravidez) e sem a pressão da decoreba, da repetição incansável do diálogo, acho que tudo vai ficar bem mais interessante!
Fisicamente, tive algumas reações esquisitas esta semana. Primeiramente, meu joelho direito começou a reclamar, mas peguei leve nas posições que forçam mais o joelho e no final da semana ele voltou ao normal. Na quinta-feira, senti um mal-estar geral, uma canseira imensa e uma quebradeira. Além disso, comecei a sentir dores fortes na minha mandíbula. Não conseguia mais mastigar nada! Minhas costelas também começaram a doer, ou melhor, os músculos ao redor delas, acho que por causa das inspirações profundas que damos durante a aula. Apesar de isso tudo ser meio chato, vejo as dores como algo positivo, acho que meu corpo está todo se ajustando e se equilibrando.
Apesar da regra de não deitar durante as posture clinics, o cansaço muitas vezes fala mais alto... |
Aqui a Carolina está tirando um cochilo. Os professores estão ali no fundo. |
Este foi o último aluno que recitou a pose ontem e praticamente todo mundo demonstrou para ele! |
quinta-feira, 4 de novembro de 2010
Tentando entender...
Antes de entrar no assunto do título deste blog, quero contar que o Julien veio fazer uma aula na tenda hoje!!! Estava rezando para ser o Bikram, já que ontem ele não deu a aula matinal para nós, e foi! A sala estava bem quente e úmida, todo mundo sofreu, mas o Julien aguentou até o fim e mandou superbem (sem forçar o joelho, que está bem machucado)! Estou tão orgulhosa e feliz de ele ter tido esta experiência única de fazer a aula do "boss", com outras 600 pessoas na mesma tenda!
Agora a parte chata. Anteontem uma almofada de haloween que eu tinha comprado para dormir desapareceu do nosso quarto. Sumiu. Como os caras da limpeza às vezes fazem a maior zona nos quartos (são 400 yogis morando aqui e outros 200 adicionais esta semana, fora todos os outros hóspedes), achei que por engano tinham levado minha almofada para outro quarto. Liguei nos achados e perdidos e nada.
Eis que ontem à noite, quando voltamos da tenda, a minha colega de quarto sente a falta do sagrado tapa-olho que ela usa para dormir. Ela ficou possessa, revoltadíssima, revirou o quarto inteiro e não achou o maldito tapa-olho. Comecei a achar toda a situação extremamente esquisita, mas achei que de repente ela levou o tapa-olho para a tenda e perdeu no meio do caminho, sei lá...
Pela manhã, a menina não me dirigiu a palavra. Não olhou na minha cara. Aliás, acordou às 5h da matina, fez o maior baarulho e às 6h eu não conseguia mais dormir. Supus que ela ainda estava brava com o sumiço do tapa-olho (detalhe é que ela usou o reserva que ela tinha no carro). Quando ela saiu do quarto a única coisa que ela me disse foi: "Eu juro que não peguei sua almofada." E saiu andando! Demorou para cair a ficha, mas ela realmente estava me acusando de ter roubado o tapa-olho dela!!! Fiquei besta, falei para ela que nem passou pela minha cabeça que ela teria roubado minha almofada, mas a menina nem olhou para trás.
Falei com ela depois da aula, explicando que era muito estranho minha almofada sumir, mas que era ridículo eu pensar que foi ela. E que era muito estranho o tapa-olho dela sumir, mas que era ridículo ela pensar que fui eu. "Por que eu faria isso?", perguntei. E a resposta foi: "Exato! Por que? Eu já te falei que sumiram roupas de uma amiga minha de outro quarto, eu nunca toquei nas suas coisas, eu não peguei sua almofada, você sabe que eu preciso deste tapa-olho para dormir!"
MAS EU NÃO PEGUEI O TAPA-OLHO!!!!!!!!! Virei para ela e disse: "EU confio em você. Sei que você não pegou nada meu." E fui tomar banho.
Agora estou aqui no pé de alguma escada do hotel, sozinha, tentando entender o que o universo quer que eu entenda. Não sei. Sei que estou me sentindo tão triste por alguém achar que eu seria capaz de alguma coisa tão mesquinha e por este alguém morar comigo no mesmo quarto pelas próximas duas semanas. Não sei. Se alguém tiver alguma idéia do que eu devo aprender com tudo isso, por favor, me digam. Qualquer opinião é bem-vinda. Preciso pensar, porque não sei como eu devo reagir a tudo isso...
Agora a parte chata. Anteontem uma almofada de haloween que eu tinha comprado para dormir desapareceu do nosso quarto. Sumiu. Como os caras da limpeza às vezes fazem a maior zona nos quartos (são 400 yogis morando aqui e outros 200 adicionais esta semana, fora todos os outros hóspedes), achei que por engano tinham levado minha almofada para outro quarto. Liguei nos achados e perdidos e nada.
Eis que ontem à noite, quando voltamos da tenda, a minha colega de quarto sente a falta do sagrado tapa-olho que ela usa para dormir. Ela ficou possessa, revoltadíssima, revirou o quarto inteiro e não achou o maldito tapa-olho. Comecei a achar toda a situação extremamente esquisita, mas achei que de repente ela levou o tapa-olho para a tenda e perdeu no meio do caminho, sei lá...
Pela manhã, a menina não me dirigiu a palavra. Não olhou na minha cara. Aliás, acordou às 5h da matina, fez o maior baarulho e às 6h eu não conseguia mais dormir. Supus que ela ainda estava brava com o sumiço do tapa-olho (detalhe é que ela usou o reserva que ela tinha no carro). Quando ela saiu do quarto a única coisa que ela me disse foi: "Eu juro que não peguei sua almofada." E saiu andando! Demorou para cair a ficha, mas ela realmente estava me acusando de ter roubado o tapa-olho dela!!! Fiquei besta, falei para ela que nem passou pela minha cabeça que ela teria roubado minha almofada, mas a menina nem olhou para trás.
Falei com ela depois da aula, explicando que era muito estranho minha almofada sumir, mas que era ridículo eu pensar que foi ela. E que era muito estranho o tapa-olho dela sumir, mas que era ridículo ela pensar que fui eu. "Por que eu faria isso?", perguntei. E a resposta foi: "Exato! Por que? Eu já te falei que sumiram roupas de uma amiga minha de outro quarto, eu nunca toquei nas suas coisas, eu não peguei sua almofada, você sabe que eu preciso deste tapa-olho para dormir!"
MAS EU NÃO PEGUEI O TAPA-OLHO!!!!!!!!! Virei para ela e disse: "EU confio em você. Sei que você não pegou nada meu." E fui tomar banho.
Agora estou aqui no pé de alguma escada do hotel, sozinha, tentando entender o que o universo quer que eu entenda. Não sei. Sei que estou me sentindo tão triste por alguém achar que eu seria capaz de alguma coisa tão mesquinha e por este alguém morar comigo no mesmo quarto pelas próximas duas semanas. Não sei. Se alguém tiver alguma idéia do que eu devo aprender com tudo isso, por favor, me digam. Qualquer opinião é bem-vinda. Preciso pensar, porque não sei como eu devo reagir a tudo isso...
quarta-feira, 3 de novembro de 2010
Semana 7!
Uau, dá para acreditar que já estamos na semana 7??? E no meio dela! O povo aqui adora quartas-feiras, porque dá uma impressão que a semana já está acabando (apesar de não estar), pois amanhã já é quinta, depois só falta a sexta e uma aulinha no sabadão!
A comunidade yogi no hotel aumentou consideravelmente esta semana, já que cerca de duzentas pessoas chegaram para o curso avançado de Bikram Yoga. O nosso treinamento é para a série de iniciantes, que tem 26 poses. A série avançada tem 84 poses e também é feita na sala aquecida. Pratiquei a série avançada cinco ou seis vezes antes de vir para cá e é muito, muito difícil (pelo menos para mim, que não sou muito flexível nem forte nos braços). Os alunos do seminário avançado fazem a aula da manhã com a gente e depois ficam para a aula avançada, que dura no mínimo duas horas. Isso significa que quem está dando aula de manhã é o Bikram, o que também significa que a nossa aula de 1h30 acaba sendo de quase 2 horas!
Na segunda-feira de manhã estava todo mundo podre e duro do fim-de-semana e o Bikram falou que não sabia que éramos tão ruins de manhã, hahaha! Ele disse que também ainda estava dormindo e que os olhos dele não conseguiam se abrir às 8h30. Mas o cara é duro na queda e deu a primeira aula, deu a aula avançada e à noite ainda deu uma palestra de duas horas. E lá estava ele na manhã de terça-feira para outras duas aulas seguidas! Hoje, no entanto, ele não apareceu, provavelmente porque ontem ele participou da festa da vitória do democrata Jerry Brown, que venceu as eleições para governador da Califórnia.
Como Bikram participou desta festa ontem, acabamos tendo outra posture clinic à noite e hoje vamos ter duas novamente, o que significa que vamos ter de apresentar duas poses por dia e possivelmente acabaremos com a série esta semana. Por um lado, acho ótimo, porque assim não preciso estudar no próximo fim-de-semana e posso curtir mais com a minha mãe aqui. Por outro lado, preciso estudar bastante em todos os intervalos esta semana, já que as últimas poses foram as que estudei menos em Londres e não lembro mais de nada! Mas, como dizem muitos professores aqui: "It's all good!"
Aliás, estou indo superbem nas posture clinics! Estou apresentando minhas poses com muitos alunos demonstrando, alguns fazendo erros para eu corrigir no meio do diálogo, e o Miles - um professor australiano ótimo que volta e meia pega o nosso grupo - disse que adoraria fazer a minha aula e até me chamou de rock star depois da posture clinic! Estou feliz e muito, muito agradecida por toda esta energia positiva que estou recebendo do meu grupo e dos professores nas posture clinics e quero trabalhar duro até o fim (apesar do cansaço e do tédio que está começando a bater com esta rotina repetitiva de posture clinic) para mandar bem até o final!
As coisas aqui no quarto estão bem com a minha colega, que neste momento, aliás, não pára de falar e não consigo nem me concentrar para digitar. Agora a menina só quer saber de conversar, conversar, conversar! Não vou reclamar, melhor assim, né?! Desculpem por quaisquer erros neste post (prometo corrigir depois), porque realmente não estou conseguindo me concentrar com a menina querendo conversar comigo aqui do meu lado sem parar! :-)
A comunidade yogi no hotel aumentou consideravelmente esta semana, já que cerca de duzentas pessoas chegaram para o curso avançado de Bikram Yoga. O nosso treinamento é para a série de iniciantes, que tem 26 poses. A série avançada tem 84 poses e também é feita na sala aquecida. Pratiquei a série avançada cinco ou seis vezes antes de vir para cá e é muito, muito difícil (pelo menos para mim, que não sou muito flexível nem forte nos braços). Os alunos do seminário avançado fazem a aula da manhã com a gente e depois ficam para a aula avançada, que dura no mínimo duas horas. Isso significa que quem está dando aula de manhã é o Bikram, o que também significa que a nossa aula de 1h30 acaba sendo de quase 2 horas!
Na segunda-feira de manhã estava todo mundo podre e duro do fim-de-semana e o Bikram falou que não sabia que éramos tão ruins de manhã, hahaha! Ele disse que também ainda estava dormindo e que os olhos dele não conseguiam se abrir às 8h30. Mas o cara é duro na queda e deu a primeira aula, deu a aula avançada e à noite ainda deu uma palestra de duas horas. E lá estava ele na manhã de terça-feira para outras duas aulas seguidas! Hoje, no entanto, ele não apareceu, provavelmente porque ontem ele participou da festa da vitória do democrata Jerry Brown, que venceu as eleições para governador da Califórnia.
Como Bikram participou desta festa ontem, acabamos tendo outra posture clinic à noite e hoje vamos ter duas novamente, o que significa que vamos ter de apresentar duas poses por dia e possivelmente acabaremos com a série esta semana. Por um lado, acho ótimo, porque assim não preciso estudar no próximo fim-de-semana e posso curtir mais com a minha mãe aqui. Por outro lado, preciso estudar bastante em todos os intervalos esta semana, já que as últimas poses foram as que estudei menos em Londres e não lembro mais de nada! Mas, como dizem muitos professores aqui: "It's all good!"
Aliás, estou indo superbem nas posture clinics! Estou apresentando minhas poses com muitos alunos demonstrando, alguns fazendo erros para eu corrigir no meio do diálogo, e o Miles - um professor australiano ótimo que volta e meia pega o nosso grupo - disse que adoraria fazer a minha aula e até me chamou de rock star depois da posture clinic! Estou feliz e muito, muito agradecida por toda esta energia positiva que estou recebendo do meu grupo e dos professores nas posture clinics e quero trabalhar duro até o fim (apesar do cansaço e do tédio que está começando a bater com esta rotina repetitiva de posture clinic) para mandar bem até o final!
As coisas aqui no quarto estão bem com a minha colega, que neste momento, aliás, não pára de falar e não consigo nem me concentrar para digitar. Agora a menina só quer saber de conversar, conversar, conversar! Não vou reclamar, melhor assim, né?! Desculpem por quaisquer erros neste post (prometo corrigir depois), porque realmente não estou conseguindo me concentrar com a menina querendo conversar comigo aqui do meu lado sem parar! :-)
sexta-feira, 29 de outubro de 2010
Happy Halloween!!!
Nunca pensei que fosse passar um Halloween nos Estados Unidos! Ainda não sei como está o clima fora do hotel, mas aqui a festa já começou na segunda-feira, quando quatro meninas do grupo resolveram demonstrar seus dotes artísticos talhando abóboras temáticas de yoga (coloco as fotos aqui amanhã, porque estão na câmera do Julien).
E a semana foi encerrada com uma aula à fantasia nesta sexta-feira à tarde! Teve gente fantasiada de Bikram, de Japanese Ham Sanwich (piada interna, para quem conhece o diálogo da aula - em uma postura você tem de colar o tórax nas pernas e parecer um "japanese ham sanwich", não me perguntem o que é isso porque não faço a mínima idéia!), de água de côco Zico (que estão vendendo aqui)...
Eu fiquei um pouco frustrada, porque esqueci de providenciar minha fantasia no fim-de-semana passado e durante a semana fui adiando, adiando, porque nos disseram que a aula à fantasia seria no sábado e acabei fazendo parte da metade dos alunos que não se fantasiaram... :-(
Mas pelo menos me diverti vendo a galera fantasiada! Eis algumas fotos.
Depois da aula, a programação previa mais uma posture clinic, das 21h às 23h, mas nos supreenderam com uma "pizza party" na tenda! Happy Halloween para todos e um ótimo fim-de-semana! Com certeza vou aproveitar o meu, pois agora tenho três dos meus amores aqui (minha mãe chegou ontem!)!
E a semana foi encerrada com uma aula à fantasia nesta sexta-feira à tarde! Teve gente fantasiada de Bikram, de Japanese Ham Sanwich (piada interna, para quem conhece o diálogo da aula - em uma postura você tem de colar o tórax nas pernas e parecer um "japanese ham sanwich", não me perguntem o que é isso porque não faço a mínima idéia!), de água de côco Zico (que estão vendendo aqui)...
Eu fiquei um pouco frustrada, porque esqueci de providenciar minha fantasia no fim-de-semana passado e durante a semana fui adiando, adiando, porque nos disseram que a aula à fantasia seria no sábado e acabei fazendo parte da metade dos alunos que não se fantasiaram... :-(
Mas pelo menos me diverti vendo a galera fantasiada! Eis algumas fotos.
Depois da aula, a programação previa mais uma posture clinic, das 21h às 23h, mas nos supreenderam com uma "pizza party" na tenda! Happy Halloween para todos e um ótimo fim-de-semana! Com certeza vou aproveitar o meu, pois agora tenho três dos meus amores aqui (minha mãe chegou ontem!)!
quinta-feira, 28 de outubro de 2010
Mudanças físicas
Nestas últimas cinco, quase seis semanas, muita coisa mudou em mim no aspecto emocional. Mas, apesar de estar praticando yoga duas vezes por dia durante a semana e mais uma vez aos sábados, estava sentindo poucas mudanças físicas. Por um lado, fiquei surpresa por estar me sentindo melhor do que eu esperava, sem aquela quebradeira, altas dores (fora aquela minha ciática). Por outro lado, não senti grandes progressos nas minhas poses. Muitas até ficaram um pouco piores, por causa do cansaço e do esforço excessivo de alguns músculos (especialmente os da parte de trás das coxas).
Eis que, esta semana, algo aconteceu. Na verdade, na semana passada já comecei a sentir melhoras nos meus backward bendings (prometo traduzir tudo isso quando eu sair daqui, mas agora, por falta de tempo para googlar os nomes em português vou simplesmente escrevê-los em inglês, ok?). Estava conseguindo me curvar mais e mais para trás. Ontem perdi minha energia, ela devia estar em algum outro lugar do universo, mas definitivamente não estava no meu corpo e estava prevendo uma aula péssima à tarde. Fui até falar com a enfermeira, porque sei que estou comendo bem menos do que normalmente como. Não sinto fome e estou empurrando a comida goela abaixo para ter algo no estômago (quem me conhece sabe que isso é beeeem estranho...). A Liz me disse para comer mais carboidratos e lá fui eu para a aula.
Foi uma das minhas melhores aulas do curso! Minha energia achou o caminho de casa e voltou para o meu corpo! E acho que foram exatamente os backward bendings que a chamaram de volta! Vivem nos dizendo que os backward bendings são a parte mais importante da aula para corrigir problemas de coluna e para recarregar sua energia e é verdade! E meu corpo começou a dobrar mais e mais e mais para trás, sem medo de cair, sem medo de quebrar, é um sentimento absolutamente maravilhoso! E todas as poses que eu menos gosto (que usam curvatura da coluna para trás) estão melhorando!
Uau, uau, uaaaaaau!!!! Isso é bem-estar!!!! Estou me sentindo no topo do mundo, feliz, cheia de energia e ansiosa para ver quais mudanças vêm pela frente!
Ah! E minha mãe chega hoje para ficar 10 dias aqui com a Mila e o Julien, eeeeebaaaaa!!!!!
Eis que, esta semana, algo aconteceu. Na verdade, na semana passada já comecei a sentir melhoras nos meus backward bendings (prometo traduzir tudo isso quando eu sair daqui, mas agora, por falta de tempo para googlar os nomes em português vou simplesmente escrevê-los em inglês, ok?). Estava conseguindo me curvar mais e mais para trás. Ontem perdi minha energia, ela devia estar em algum outro lugar do universo, mas definitivamente não estava no meu corpo e estava prevendo uma aula péssima à tarde. Fui até falar com a enfermeira, porque sei que estou comendo bem menos do que normalmente como. Não sinto fome e estou empurrando a comida goela abaixo para ter algo no estômago (quem me conhece sabe que isso é beeeem estranho...). A Liz me disse para comer mais carboidratos e lá fui eu para a aula.
Foi uma das minhas melhores aulas do curso! Minha energia achou o caminho de casa e voltou para o meu corpo! E acho que foram exatamente os backward bendings que a chamaram de volta! Vivem nos dizendo que os backward bendings são a parte mais importante da aula para corrigir problemas de coluna e para recarregar sua energia e é verdade! E meu corpo começou a dobrar mais e mais e mais para trás, sem medo de cair, sem medo de quebrar, é um sentimento absolutamente maravilhoso! E todas as poses que eu menos gosto (que usam curvatura da coluna para trás) estão melhorando!
Uau, uau, uaaaaaau!!!! Isso é bem-estar!!!! Estou me sentindo no topo do mundo, feliz, cheia de energia e ansiosa para ver quais mudanças vêm pela frente!
Ah! E minha mãe chega hoje para ficar 10 dias aqui com a Mila e o Julien, eeeeebaaaaa!!!!!
terça-feira, 26 de outubro de 2010
Descascando as camadas
Agora tenho Internet todo dia aqui no hotel, eeeebaaaa! É um provedor chamado Boingo, que aparentemente existe em aeroportos, hotéis e afins. 10 dólares por mês! Mas, como vocês perceberam, por enquanto minha Internet diária não se traduziu em mais posts, simplesmente por pura falta de tempo...
Ontem e hoje tivemos uma palestra com um cara chamado Jon Burras (ele tem um site, que possivelmente vou visitar apenas depois de sair daqui, já que aqui não tenho tempo para nada), sobre fascia e anatomia emocional, que foi altamente polêmica. Ele tem idéias que destroem todos os preconceitos que temos sobre anatomia humana e medicina ocidental.
Não vou resumir a palestra aqui, porque para entender os conceitos tivemos seis horas de palestra e se eu tentasse fazê-lo todos achariam que as idéias do Jon são simplesmente malucas e surreais demais. Mas confesso que após as três primeiras horas de palestra de ontem, muitos conceitos faziam sentido para mim.
O único conceito sobre o qual gostaria de escrever aqui é a explicação que ele deu para os ataques de choro e as dores inexplicáveis em várias partes do corpo que as pessoas estão tendo durante o curso. Ele diz que quando isso ocorre, estamos passando por uma "healing crisis" (seria uma "crise de cura", em português?). O corpo seria formado por camadas que contêm todas as suas experiências e traumas, desde que você nasceu. Conforme vivemos experiências novas, elas vão se acumulando nas camadas mais superiores, portanto as experiências e traumas de infância estariam lá embaixo, nas primeiras camadas. A prática de yoga, segundo ele, descasca estas camadas. E como aqui praticamos muita yoga, aceleramos o processo de descascar as camadas. É aí que aparece uma dor no tornozelo, possivelmente daquele acidente que você teve quando tinha 20 anos e não tratou direito e é aí que aparece uma crise de choro de algum episódio traumático que você teve e simplesmente conteve dentro de você.
Comecei a relacionar isso com as minhas crises de choro da semana passada e percebi que talvez eu não tenha chorado porque minha colega de quarto é uma mala. Acho que tinha muito choro represado aqui de traumas fortes que marcaram minha vida nos últimos anos. E que eu tinha de liberar.
A conclusão do Jon é: deixe as suas emoções saírem. Na nossa sociedade as regras são não chorar, não expressar suas emoções, aparentar sempre que está tudo bem na sua vida. E assim acabamos guardando muitas mágoas e tristezas que muitas vezes nos impedem a seguir em frente e ser felizes. Dói sentir dor e dói chorar. Mas precisamos aprender a "let go"...
E vambora que daqui a pouco me atraso para a aula da tarde!
Ontem e hoje tivemos uma palestra com um cara chamado Jon Burras (ele tem um site, que possivelmente vou visitar apenas depois de sair daqui, já que aqui não tenho tempo para nada), sobre fascia e anatomia emocional, que foi altamente polêmica. Ele tem idéias que destroem todos os preconceitos que temos sobre anatomia humana e medicina ocidental.
Não vou resumir a palestra aqui, porque para entender os conceitos tivemos seis horas de palestra e se eu tentasse fazê-lo todos achariam que as idéias do Jon são simplesmente malucas e surreais demais. Mas confesso que após as três primeiras horas de palestra de ontem, muitos conceitos faziam sentido para mim.
O único conceito sobre o qual gostaria de escrever aqui é a explicação que ele deu para os ataques de choro e as dores inexplicáveis em várias partes do corpo que as pessoas estão tendo durante o curso. Ele diz que quando isso ocorre, estamos passando por uma "healing crisis" (seria uma "crise de cura", em português?). O corpo seria formado por camadas que contêm todas as suas experiências e traumas, desde que você nasceu. Conforme vivemos experiências novas, elas vão se acumulando nas camadas mais superiores, portanto as experiências e traumas de infância estariam lá embaixo, nas primeiras camadas. A prática de yoga, segundo ele, descasca estas camadas. E como aqui praticamos muita yoga, aceleramos o processo de descascar as camadas. É aí que aparece uma dor no tornozelo, possivelmente daquele acidente que você teve quando tinha 20 anos e não tratou direito e é aí que aparece uma crise de choro de algum episódio traumático que você teve e simplesmente conteve dentro de você.
Comecei a relacionar isso com as minhas crises de choro da semana passada e percebi que talvez eu não tenha chorado porque minha colega de quarto é uma mala. Acho que tinha muito choro represado aqui de traumas fortes que marcaram minha vida nos últimos anos. E que eu tinha de liberar.
A conclusão do Jon é: deixe as suas emoções saírem. Na nossa sociedade as regras são não chorar, não expressar suas emoções, aparentar sempre que está tudo bem na sua vida. E assim acabamos guardando muitas mágoas e tristezas que muitas vezes nos impedem a seguir em frente e ser felizes. Dói sentir dor e dói chorar. Mas precisamos aprender a "let go"...
E vambora que daqui a pouco me atraso para a aula da tarde!
domingo, 24 de outubro de 2010
Baby, don't worry...
Não me lembro mais do nome da professora que deu a aula da sexta-feira de manhã. Mas não vou esquecer dela (da professora nem da aula). Estávamos todos bem cansados por causa da falta de sono, eu tinha acabado de passar por fortes emoções nos dias anteriores, de manhã já estamos naturalmente mais duros e frios, ou seja, ninguém estava muito a fim de "pegar pesado". A professora, que já passou por tudo isso por que estamos passando, sabia exatamente como estávamos nos sentindo e começou a aula dizendo (e preciso escrever isso em inlglês, para fazer sentido): "When I left my room, I saw three little birds that said 'don't worry, because every little thing is gonna be all right'", o que automaticamente já iluminou nossa cara com um sorriso. A aula dela foi altamente energética (a mulher, que deve estar nos seus 50 anos, é um poço de energia!), mas no fim da aula, a voz dela ficou mais fraca, com algumas pausas, e reparamos que ela estava colocando uma toalha na frente da boca toda hora. Ela estava passando mal.
"Desculpem. Às vezes é o professor que precisa da energia dos alunos para seguir em frente...", ela disse e todos respondemos batendo palmas e batendo as mãos no chão (estávamos fazendo a série do chão, deitados). "Obrigada!" e ela acabou encontrando forças de algum lugar para terminar a aula. Quando ela terminou, mais uma salva de palmas e, obviamente a música que tocou na sequência foi "Three Little Birds", do Bob Marley. Fiquei arrepiada da ponta dos meus cabelos às unhas do meu pé e, assim como todos na sala, fiquei cantando o refrão da música... "Baby don't worry, about a thing, cause every little thing is gonna be all right", sentindo que, realmente, tudo vai dar certo! Nem acreditei no timing da música! Era tudo, tudo que eu precisava ouvir naquela manhã de sexta-feira! E assim, um ótimo dia começou!
Preciso falar um pouco das noitadas inesquecíveis com o Bikram. Esta semana tivemos três (fora a opcional, na terça-feira, da qual eu não participei para me poupar para as demais) e, fora o tosco Mahabarata, "assistimos" a uma espécie de E.T. indiano, que aparentemente fez o maior sucesso lá na Índia. Tinha duas partes, cada uma com 3h30 de duração. Os filmes sempre começavam depois de uma palestra de 2h a 3h do Bikram, o que significa cerca de 6 horas naquelas cadeiras desconfortáveis (aliás, a mais confortável das cadeiras fica desconfortável após um período muito mais curto do que este!).
Como a lei da sobrevivência sempre fala mais alto, começamos a encontrar formas de minimizar o desconforto e o cansaço. Na primeira noite da semana, algumas pessoas trouxeram travesseiros do quarto e as pessoas da primeira fileira deitaram no chão para tentar dormir um pouco. Na segunda noite, o número de pessoas com travesseiros tinha aumentado consideravelmente e vários trouxeram também cobertores. As pessoas que não estavam na primeira fileira também começaram a se entender com os vizinhos, o que resultou em várias pessoas dormindo no chão entre as cadeiras e outras dormindo em cima das cadeiras. Na noite seguinte, a que estava no chão mudava para as cadeiras e vice-versa.
Bom, e dormir é modo de falar... Filmes indianos são cheios de músicas e o som na tenda era tão alto que não dava para dormir (no meu caso, pelo menos), mas deu para fechar nossos olhos um pouco e esticar nossas pernas e costas. Tenho de dizer que tudo ficou um pouco menos sofrido do que nas primeiras duas semanas. Acho que aceitamos a situação (alguns, porém, ainda estão bem revoltados com as noites em claro) e decidimos nos adaptar a ela. Até comprei uma manta baratinha de abóboras de Halloween para me esquentar na tenda (pequenas alegrias consumistas distintas que temos aqui, hehehe!)!
E quando olho de forma mais ampla para tudo isso e me dou conta das pessoas de 50, 60 anos que estão fazendo o curso comigo e passando pelas mesmas coisas, chego à conclusão que eu não tenho nem direito de reclamar. Esta semana o Dr. Das, um indiano que ensinou terapia de yoga para nós, chamou ao palco todas as pessoas com mais de 50 anos. A foto está aí abaixo. Um monte de gente!!! E a mais velha, a mulher logo ao lado do Dr. Das na segunda foto, tem 65 anos, é mais velha do que a minha mãe! E esta outra, do lado dela, que também tem mais de 60, tem mais energia do que 100 chinesas (pelo menos da espécie do meu quarto) juntas! Ela está sempre sorrindo, de bom humor e cheia de disposição durante as aulas de yoga, incrível! E já falei do casal sueco que está fazendo o curso junto? Uma graça, os dois também têm mais de 60 anos e a filha é professora de Bikram Yoga e vem para cá na semana que vem fazer o seminário da série avançada de Bikram. Ela que convenceu os dois a começar a praticar e eles gostaram tanto que estão aqui!
Mami e Paps, se preparem, porque se eu realmente abrir um estúdio em Sampa, vocês vão ter de pelo menos tentar! :-)
"Desculpem. Às vezes é o professor que precisa da energia dos alunos para seguir em frente...", ela disse e todos respondemos batendo palmas e batendo as mãos no chão (estávamos fazendo a série do chão, deitados). "Obrigada!" e ela acabou encontrando forças de algum lugar para terminar a aula. Quando ela terminou, mais uma salva de palmas e, obviamente a música que tocou na sequência foi "Three Little Birds", do Bob Marley. Fiquei arrepiada da ponta dos meus cabelos às unhas do meu pé e, assim como todos na sala, fiquei cantando o refrão da música... "Baby don't worry, about a thing, cause every little thing is gonna be all right", sentindo que, realmente, tudo vai dar certo! Nem acreditei no timing da música! Era tudo, tudo que eu precisava ouvir naquela manhã de sexta-feira! E assim, um ótimo dia começou!
Preciso falar um pouco das noitadas inesquecíveis com o Bikram. Esta semana tivemos três (fora a opcional, na terça-feira, da qual eu não participei para me poupar para as demais) e, fora o tosco Mahabarata, "assistimos" a uma espécie de E.T. indiano, que aparentemente fez o maior sucesso lá na Índia. Tinha duas partes, cada uma com 3h30 de duração. Os filmes sempre começavam depois de uma palestra de 2h a 3h do Bikram, o que significa cerca de 6 horas naquelas cadeiras desconfortáveis (aliás, a mais confortável das cadeiras fica desconfortável após um período muito mais curto do que este!).
Como a lei da sobrevivência sempre fala mais alto, começamos a encontrar formas de minimizar o desconforto e o cansaço. Na primeira noite da semana, algumas pessoas trouxeram travesseiros do quarto e as pessoas da primeira fileira deitaram no chão para tentar dormir um pouco. Na segunda noite, o número de pessoas com travesseiros tinha aumentado consideravelmente e vários trouxeram também cobertores. As pessoas que não estavam na primeira fileira também começaram a se entender com os vizinhos, o que resultou em várias pessoas dormindo no chão entre as cadeiras e outras dormindo em cima das cadeiras. Na noite seguinte, a que estava no chão mudava para as cadeiras e vice-versa.
Bom, e dormir é modo de falar... Filmes indianos são cheios de músicas e o som na tenda era tão alto que não dava para dormir (no meu caso, pelo menos), mas deu para fechar nossos olhos um pouco e esticar nossas pernas e costas. Tenho de dizer que tudo ficou um pouco menos sofrido do que nas primeiras duas semanas. Acho que aceitamos a situação (alguns, porém, ainda estão bem revoltados com as noites em claro) e decidimos nos adaptar a ela. Até comprei uma manta baratinha de abóboras de Halloween para me esquentar na tenda (pequenas alegrias consumistas distintas que temos aqui, hehehe!)!
E quando olho de forma mais ampla para tudo isso e me dou conta das pessoas de 50, 60 anos que estão fazendo o curso comigo e passando pelas mesmas coisas, chego à conclusão que eu não tenho nem direito de reclamar. Esta semana o Dr. Das, um indiano que ensinou terapia de yoga para nós, chamou ao palco todas as pessoas com mais de 50 anos. A foto está aí abaixo. Um monte de gente!!! E a mais velha, a mulher logo ao lado do Dr. Das na segunda foto, tem 65 anos, é mais velha do que a minha mãe! E esta outra, do lado dela, que também tem mais de 60, tem mais energia do que 100 chinesas (pelo menos da espécie do meu quarto) juntas! Ela está sempre sorrindo, de bom humor e cheia de disposição durante as aulas de yoga, incrível! E já falei do casal sueco que está fazendo o curso junto? Uma graça, os dois também têm mais de 60 anos e a filha é professora de Bikram Yoga e vem para cá na semana que vem fazer o seminário da série avançada de Bikram. Ela que convenceu os dois a começar a praticar e eles gostaram tanto que estão aqui!
Mami e Paps, se preparem, porque se eu realmente abrir um estúdio em Sampa, vocês vão ter de pelo menos tentar! :-)
sábado, 23 de outubro de 2010
Explosão chinesa
Todos os sábados o estacionamento do hotel fica assim, após a galera lavar suas esteiras suadas. |
Prometi que neste post ia contar o que aconteceu na quarta-feira, enquanto eu digitava o outro post. Bom, a chinesa estava tentando dormir (para variar) , às 16h, e eu fiz uma barreira de travesseiros e sentei do lado mais distante da cama para digitar sem atrapalhá-la demais. A menina ficou se remexendo na cama e de repente levantou e falou: "Não dá pra você sair do quarto para digitar, não? Eu preciso dormir!" Tentei explicar para ela que fora do quarto estava frio e que eu também tenho direito de fazer minhas coisas dentro do quarto - como digitar no meu computador no meio da tarde durante 15 minutos (detalhe é que eu só uso o computador e a Internet UMA vez por semana!). Mas a menina não entende o que é convivência com outras pessoas que não seguem as ordens dela e não houve acordo. Saí do quarto porque senti minhas lágrimas querendo escorrer (sempre nas piores horas..) e quando as minhas vizinhas australianas me viram chorando contei o que tinha acontecido. A chinesa deve ter ouvido algo e explodiu comigo quando voltei para o quarto. Tentei falar com ela calmamente, mas a pessoa só berrava. No fim disse: "Eu estava tentando ser legal com você, mas agora não vou ser mais!" E pensei comigo mesma: "Isso era ser legal???"
Depois disso, ela não olhou mais na minha cara e não trocou sequer uma palavra comigo. Foi horrível. O clima no quarto ficou tão pesado que eu não queria nem voltar para lá depois das aulas para não encontrar com ela.
Na quinta-feira de manhã, durante a aula, não consegui pensar em outra coisa. Ficava imaginando como seria ficar mais um mês no mesmo quarto de uma pessoa que te odeia e não te olha na cara. E comecei a chorar. E não consegui mais parar. Foi ridículo chorar durante a aula (ainda bem que eu estava na última fileira da sala), mas eu não conseguia parar! Depois da quinta posição fechei os olhos, respirei fundo e tentei me concentrar na aula, o que funcionou até a penúltima posição, quando me descontrolei de novo.
Respondendo à pergunta da Fabíola no último post, nesta hora pensei em largar a mala e me sacrificar um pouco indo e voltando três vezes por dia para o flat do Julien e da Mila (o que significaria um sacrifício para eles também, que ficariam sem carro, e eu perderia entre 30 e 40 minutos das minhas às vezes únicas três horas de sono por noite e várias outras inconveniências). E confesso que, acima de tudo, me senti um pouco derrotada com esta opção, porque eu realmente achava que tinha de resolver esta situação de forma mais pacífica, mas estava tão desesperada que não via como fazê-lo.
Então resolvi pedir ajuda à Nikki, a responsável por resolver problemas de quarto, e pedir para trocar de companheira de quarto (já que várias outras pessoas andaram reclamando de suas colegas). A Nikki disse que não dava mais para trocar, porque já tínhamos passado da metade do curso, mas se ofereceu para intermediar uma conversa entre nós duas para tentar resolver a situação. E acrescentou, com seu jeito doce e cheio de compaixão: "É melhor você não tentar fugir e sim lidar com este problema agora, porque senão ele pode voltar em outro momento da sua vida. Nós vamos resolver isso, fique tranquila." Ela estava certa.
E sabe o que aconteceu quando voltei para o quarto? A chinesa resolveu falar comigo! E à noite, saiu para comprar comida para ela e voltou com uma coisinha para mim (era um bolinho de arroz com frango, mas ela disse que eu não precisava comer o frango). E no dia seguinte se ofereceu para me levar com ela para o shopping para comprar comida (um dia eu tinha pedido para ir com ela e ela disse que não podia esperar eu terminar de tomar banho - tomo sempre depois dela - pois isso significaria menos minutos de sono)!
Falei para a Nikki que era melhor suspender a conversa porque a nossa situação tinha melhorado e ela abriu o maior sorriso, de alguém que estava genuinamente feliz com a notícia, e disse: "Que bom! Está vendo? Foi só você pedir por ajuda que o universo começou a funcionar a seu favor!"
Estou tão aliviada! Não sei o que aconteceu com a chinesa (aliás, ela comprou tapa-ouvidos e me pediu para voltar cedo no domingo para irmos dormir às 21h30), mas o clima entre nós está bem melhor! Será que foi mesmo o universo funcionando a meu favor? :-)
Acabei encerrando a semana de ótimo humor, com uma aula fantástica no sábado de manhã! E três horas de primeiros-socorros à tarde... :-)
E chega de escrever que preciso curtir o fim-de-semana reduzido com meus amores! E ainda estudar um pouco de diálogo!
Este é o grupo 15, meu grupo nas posture clinics, todos uns amados! |
As meninas do meu grupo no curso de primeiros-socorros. |
sexta-feira, 22 de outubro de 2010
Meio do curso!!!
Post escrito na quarta-feira, dia 20/10:
Nem acredito que chegamos na metade do curso e continuo viva!!! Quatro semanas e meia se passaram e tanta coisa aconteceu! Já me sinto bem diferente do que quando cheguei aqui. Mas também sinto que ainda vou mudar bastante e que os maiores desafios ainda estão pela frente…
Esta semana, já andei trombando em alguns obstáculos. Tudo começou no domingo, quando voltei ao hotel, às 21h. Como já virou rotina, fiquei bem triste ao me despedir dos meus amores e a sensação de voltar a morar no mesmo quarto da chinesa não me animou nem um pouco. Cá estava ela berrando ao telefone (não era briga, ela só fala extremamente alto ao telefone), durante meia hora. Eu estava tentando estudar anatomia, já que tínhamos prova na segunda-feira. Às 21h30 ela foi dormir e eu continuei estudando. Mastigava minha pizza, me ouvia comendo e via a chinesa se mexendo na cama, tentando dormir. Me senti mal e acabei de comer o pedaço no banheiro, para não incomodá-la (que situação…). Eis que às 22h ela se levanta e pergunta a que horas eu vou dormir. Disse que primeiramente precisava terminar de estudar. Ela ficou brava, dizendo que era a única noite em que ela podia ir dormir cedo, que eu também deveria dormir, pois a semana iria ser pesada (já que o Bikram voltou e teríamos várias madrugadas em claro). Disse a ela que eu queria dormir, mas que precisava estudar antes, que ela não estava preocupada com a prova (porque ela não fala bem inglês e simplesmente desistiu de acompanhar as aulas de anatomia), mas eu estava. Assim, o clima da semana começou pesado.
Às vezes ela simplesmente me ignora no quarto. Tento levantar qualquer assunto, falar do tempo (que está um horror, frio e chuvoso), e ela simplesmente não responde. Nem olha na minha cara. É como se eu fosse ar. Às vezes entra no quarto, vai no banheiro, e sai sem falar uma palavra, sem me notar. Isso está me incomodando bastante, me deixando bem triste. O Julien e eu estamos pagando dois lugares diferentes (ele está com a Mila em um apartamento e eu aqui no hotel), dói ficar longe deles e achei que tudo isso pelo menos valeria a pena se eu estivesse fazendo uma amiga para a vida aqui. Estudando diálogo juntas, se apoiando, dividindo os sofrimentos e as alegrias… Mas não é o caso. Ela não gosta de conversar comigo e quando responde alguma pergunta só sabe falar: "Tired, tired." Ela está cansada toda hora, só quer saber de dormir (outro dia reclamou que eu faço barulho digitando no computador e ela não consegue dormir), sempre está de cara fechada. Sei que talvez o destino queira que eu aprenda a lidar com uma situação como esta, mas confesso que está sendo bem difícil e desanimador.
Nós nas posture clinics. |
Mas vamos falar do curso! Boss is back, o que quer dizer que acabou a moleza. Na segunda-feira, tivemos uma palestra dele até à meia-noite e depois ele disse que assistiríamos a mais um capítulo do Mahabarata, durante 45 minutos. Acabamos assistindo a vários capítulos e fomos liberados às 4h da manhã. O mais complicado não é permanecer acordado, mas sim ficar sentado em uma cadeira dura e desconfortável durante tanto tempo.
Aliás, acho que esta é uma das causas da minha ciática. Sim, estou com uma dor constante no meu traseiro, que está irradiando para a parte posterior da coxa. Ontem à noite não conseguia achar uma posição decente para dormir, porque qualquer uma doía. Sentia o nervo repuxar quando respirava. Acabei tomando um remédio anti-dor e fui ver a enfermeira hoje cedo. Ela disse que ciática leva um tempo para passar (ainda mais quando você continua praticando yoga duas vezes por dia) e que era para eu pegar bem leve na aula e não tomar remédio antes das aulas para não disfarçar a dor e acabar me machucando mais.
Outra noticia que me deixou um pouco desanimada foi a de que o nosso curso de primeiros socorros vai ser neste sábado à tarde. Normalmente temos folga depois da aula das 8h da manhã (a não ser que você precise fazer a "make-up class" às 11h - para quem perdeu alguma aula ou palestra durante a semana ou para quem simplesmente esqueceu de marcar presença antes das palestras ou aulas - a segunda situação é a mais comum). Com isso, só vou estar liberada às 17h30 de sábado e só vou ter um dia com o Julien e a Mila…
Sei que preciso aceitar as coisas como são, porque não posso mudá-las. Sabia que ia encontrar pedras no caminho. O jeito é respirar fundo, expirar, fechar os olhos, acalmar a mente e seguir em frente. Como eles gostam de dizer aqui: "Trust the proses." No final, tudo vai dar certo!!!
Ah, e a notícia boa da semana! Ontem à noite, quando começou a posture clinic às 21h, não sabíamos o que aconteceria depois das 23h, mas todo mundo tinha quase certeza que seria mais uma longa noite de palestra e filme. No meio da posture clinic o Dom entrou na sala para dizer que depois da posture clinic estávamos liberados! Todo mundo berrou de felicidade, bateu palma, assobiou (tínhamos recebido orientação para apenas estalar os dedos em vez de aplaudir alguém para não fazer barulho e incomodar os hóspedes dos quartos próximos às nossas salas , mas a emoção foi incontrolável!) e nem acreditamos que iríamos dormir cedo! O Dom acrescentou que às 23h30 Bikram estaria na tenda assistindo a um filme e quem quisesse poderia se juntar a ele. E não é que umas 60 pessoas foram? Porém, a noite acabou às 2h45 com apenas sete! Gente corajosa, cheia de energia! Eu foi aproveitar para descansar meu corpo e minha mente para aguentar as pedras que ainda estão por vir no meu caminho!
P.S.: Quando estava escrevendo este post e a chinesa mais uma vez tentava dormir, a coisa ficou feia. Aguardem o próximo post...
sábado, 16 de outubro de 2010
Choradeira geral
Post escrito na sexta-feira, dia 15/10:
Bom saber que eu não sou a única pessoa chorona deste curso! Já explico...
Nos últimos dois dias, estamos tendo aula com os funcionários (os professores que se voluntariaram para participar da organização de todo o curso - eles fazem parte do nosso dia-a-dia e todos são uns queridos, dos quais gostamos mais e mais e mais). Hoje pela manhã foi a vez da Nikki, que encerrou a aula com um poeminha curto e fofo, que terminava com a frase: "All you need is love." Preciso dizer qual música tocou logo na sequência? Fiquei toda arrepiada e foi tão emocionante que tive de parar minha savásana e abrir meus olhos para deixar minhas lágrimas saírem. E quando olhei para os lados, vi que eu não era a única!
Algo está acontecendo aqui que está deixando todo mundo extremamente sensível. Durante a posture clinic da tarde, uma alemã, a Uli (pois é, xará da minha melhor amiga!), recitou a posição do dia (a mesma de ontem, portanto hoje escapei dos holofotes!) e tentou, tentou, tentou, mas a coisa não saía. Ela mal fala inglês e a professora veterana que estava na nossa sala percebeu logo de cara que o problema era esse e disse ter certeza que se ela falasse o diálogo em alemão (coisa que ela vai fazer quando voltar para Hamburgo), a coisa sairia bem diferente. Ela fez um batia discurso fofo para a Uli não ficar decepcionada, tentar fazer o melhor possível, saber que ela é capaz de recitar muito, muito melhor na língua dela e aí a Uli teve um "meltdown" (o típico ataque de choro que eu tive ontem e anteontem). E a professora teve um também! E as duas se abraçaram, e choraram, e váááárias pessoas na sala - inclusive alguns homens - ficaram com os olhos marejados (nem preciso mencionar que eu estava entre elas, né…). Cada vez mais todos aqui estão se conectando um ao outro, torcendo um pelo outro nas posture clinics, apoiando uns aos outros nos momentos difíceis, e é legal ver uma demonstração de afeto como a de hoje, entre pessoas que nunca tinham se visto antes.
A aula da noite foi com o Dom, que também resolveu tocar uma música na hora da savásana. Todas as luzes se apagaram e começou a tocar Don't Stop 'Till You Get Enough, do Michael Jackson. Ah, a galera não teve dúvida: todos levantaram e começaram a pular e dançar em cima das esteiras e toalhas encharcadas de suor! A tenda parecia uma grande discoteca! Estava todo mundo tão cansado, mas de algum lugar achamos energia para pular e dançar juntos!
Foi um ótimo encerramento para a semana 4! Amanhã tem apenas mais uma aula, depois um fim-de-semana maravilhoso com meus amores! E semana que vem, como disse o Dom, "Boss is in town!", Bikram volta ao hotel e as madrugadas em claro voltarão a fazer parte da nossa rotina... Será que dá para acumular crédito de sono?
Fiz uma foto na aula deste sábado, mas não ficou muito boa, por causa da umidade...
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